Movimentos de afro-descendentes já estão mobilizados no Brasil para tentar impedir manifestações racistas no "Mundial" de futebol de 2014. O temor é que o evento desportivo possa ser palco de discriminações praticadas por brasileiros e estrangeiros.
O presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro (CEDINE), no Rio de Janeiro, Paulo Roberto Santos, explica que a preocupação não existe somente com relação às práticas racistas contra jogadores. “Hoje em dia as torcidas são muito violentas e no meio da torcida há sempre grupos minoritários provocadores. Então, não se só com jogadores. Com os jogadores temos um evento ou outro muito isolado,” explica.
O presidente do CEDINE tem certeza que o combate à discriminação no evento desportivo é um trabalho para além do campo de futebol. “Você tem barbáries fora de campo entre torcidas e entre pessoas comuns em função da questão racial simplesmente, da questão da pigmentação.
Entidades civis manifestam apoio às campanhas anti-racistas para evitar esse tipo de crime durante os jogos de 2014. Na opinião do presidente do CEDINE, o trabalho que está sendo preparado pelo governo brasileiro nesse sentido promete dar resultado. “A gente não quer penalizar ninguém. Porque sabemos que ainda há muita ignorância, infelizmente, na compreensão do perfil do outro. Queremos uma consciencialização. Que antes de abrir a boca ou de fazer uma acção, que a pessoa tenha consciência de que isso não só faz parte de um passado deplorável, como é uma acção criminosa.”
Os movimentos deixam claro, no entanto que, para quem não se conscientizar vai existir a punição. Para isso, o CEDINE lembra que a legislação brasileira, prevendo que o racismo é crime inafiançável, poderá ser aplicada também aos estrangeiros. “A gente depara com várias manifestações de fora. Se você não tiver uma espécie de cordão de protecção interna isso se propaga internamente. A legislação e a fiscalização dela são fundamentais para que, ao chegar ao Brasil, as pessoas que não têm lá fora repressão dessa natureza saibam que aqui vão ficar enquadrados.”
Paulo Roberto Santos garante que não vão faltar olhos atentos aqui no Brasil. “Nós vamos estar juntos com outras entidades da sociedade civil e do governo atentos para enquadrar legalmente essas manifestações de intolerância racial,” afirma. “Aqui a lei é do Brasil. Claro que o sistema de futebol tem as suas convenções, mas a legislação é única e tem que ser aplicada.”
Movimentos de afro-descendentes mobilizados no Brasil para tentar impedir manifestações racistas no "Mundial" de futebol de 2014. Receia-se que o evento seja palco de actos discriminatórios.