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Angola: Transformação de hotéis apreendidos ao empresário São Vicente gera inquietação


Hotel IKA, Benguela, Angola
Hotel IKA, Benguela, Angola

Procuradoria Geral da República diz que autoridades querem afastar risco de pilhagem, mas industriais avisam que a medida pode acarretar prejuízos

Com a apreensão das redes de hotéis IKA e UI ao empresário Carlos São Vicente, o Estado angolano tem em mãos ativos superiores a 415 milhões de dólares norte-americanos, entregues ao Ministério das Finanças, mas ainda sem métodos de gestão capazes de preservar e colocar os imóveis ao serviço da economia nacional, avisa a associação Hotéis Angola.

Numa apreciação a levantamentos feitos pela VOA após a recente publicação dos activos recuperados ao abrigo do combate à corrupção, aquela associação critica a transformação de unidades hoteleiras em edifícios para organismos públicos, como tribunais e delegações da Inspecção Geral da Administração do Estado, enquanto a Procuradoria-Geral da República (PGR) acredita ter tomado uma boa medida.

A página do Serviço Nacional de Recuperação de Activos mostra 10 hotéis IKA e oito IU, em alguns casos, segundo registos oficiais, com participações da Sonangol, ao lado do empresário São Vicente, que viu o Tribunal Constitucional negar provimento aos seus recursos.

No terreno, a gestão da equipa criada pelas autoridades é contestada pelo empresário Jorge Nunes, membro da associação Hotéis Angola, que vaticina prejuízos em função do rumo dos acontecimentos.

“No meu entender, estão a ser mal geridos por uma equipa do Estado sem preparação para gerir numa componente empresarial e tirar retorno comercial. Se calhar, estamos a fazer com que venham a perder qualidade e interesse da parte do público, simplesmente por falta de métodos de gestão apropriados para o efeito”, aponta Nunes.

Faltam hotéis nas várias províncias com ativos apreendidos, avaliados entre 34 milhões e 72 milhões de dólares cada, mas a situação de Mbanza Congo, no Zaire, é bastante preocupante.

“Eu diria que é um caso crítico, Mbanza Congo é património mundial mas não tem uma unidade hoteleira, não tem uma unidade onde os turistas possam ficar condignamente. Mesmo assim, a própria PGR não quis saber e converteu estes hotéis em espaços de uso para serviços públicos”, indica aquele empresário.

Preocupado está também o líder da Associação dos Hotéis e Resorts de Angola (AHRA) que lembra que o país anda às voltas com a necessidade de investimento externo

“É uma cadeia importantíssima para a promoção e desenvolvimento do turismo em Angola, uma vez que a sua construção obedeceu a padrões internacionais, há conexões entre as dependências, como quartos, cozinha e restaurantes. Portanto, não dão para servir como escritórios”, alerta Ramiro Barreira

Sem entrevista gravada, o porta-voz da PGR, o procurador Álvaro João, explica que a transformação dos hotéis deve ser encarada na perspetiva de fiéis depositários, uma vez que, como salienta, há sempre o risco de pilhagens.

A eventual participação da Sonangol, um ente público, deve ajudar, na óptica do magistrado, a definir o futuro.

Não foi possível ouvir o Ministério das Finanças, entidade destinatária do apelo do economista Janísio Salomão, que traz à liça as privatizações do Estado e as viaturas apreendidas

“Se são hotéis … devem ser entregues a entes com capacidade para gerir, temos ainda um défice de oferta de quartos no nosso país. Estes activos podem passar para o projecto de privatizações do Estaso ou ainda a leilão, como acontece agora com as viaturas”, sugere Salomão.

Há três anos, os hotéis-escolas do Instituto de Fomento do Turismo, em Benguela e no Namibe, acabaram nas mãos de dois grupos empresariais, um deles a Omatapalo, cujo sócio maioritário é o governador de Benguela.

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