Abril chuvas mil é uma expressão conhecida em Luanda, cidade que, no entanto, não está preparada para receber chuvas, que matam e provocam muita destruição e prejuízos.
O problema é estrutural, demográfico, dizem especialistas que apontam soluções para a capital de Angola.
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O arquitecto urbanista Felisberto Amado considera que, antes de qualquer medida em Luanda, há, primeiro, que descentralizar e desconcentrar os poderes.
"No dia em que Luanda tiver um autarca no comando podem crer que metade dos seus problemas começam a ser resolvidos, sem isso tudo que se fizer vai falhar", diz aquele arquitecto, lembrando que as várias zonas residenciais construídas, como o Kilamba, Sequele, Zangos, falharam.
"Agora há que projectar novas áreas, construir infraestruturas, sobretudo as básicas, transferir a população para estas novas áreas e aquelas abandonadas sofrerem uma requalificação, para mais tarde voltarem a habitar estas zonas já requalificadas", acrescenta Amado.
Veja Também Luanda procura soluções para consequências da chuva entre críticas de lentidão na respostaO arquitecto João João refuta esta ideia e diz que o problema não reside na "Luanda velha".
"A cidade velha também é importante para a história da cidade, mesmo que se façam novas cidades é preciso preservar a antiga, Luanda não tem escassez de espaços por quê mexer no antigo? O que tem que se travar é o crescimento informal, tem é que se parar com esta anarquia", defende João João, que fala na "mentalidade da população que contribui muito para que em tempo chuvoso haja sobrecargas"
Mas para Felisberto Amado, "isto é falácia, é só ver como está hoje a ilha do Mussulo, em Luanda, acha que é a população que estragou o Mussulo? Compare o Mussulo com outras instâncias turísticas mundiais, mesmo da África do Sul, Namíbia, não é a população que degradou o Mussulo, são os endinheirados deste país que destruíram o Mussulo, e a população só faz aquilo que o Governo lhe permite".
João João defende para Luanda um projecto integrado e não isolado.
"Quando se faz uma urbanização, não se pode pensar apenas no espaço em si mas também na sua envolvente mais próxima, em Luanda, quando se construiram os Kilambas, Sequeles, Zangos, foram feitos isoladamente, sem se ter em conta a sua envolvente mais próxima, e quando cai a chuva manda para estes novos bairros toda a carga", aponta aquele arquitecto que propõe "acabar com os bairros informais", conclui.
Amado alerta que "a roda já está inventada, pensar que Angola ou Luanda é caso especial é falácia, para enganar o povo e manter-se o que se vê hoje, sempre que chove é desgraça, o que falta é apenas vontade política de quem dirige de fazer as coisas como deveser".
Recorde-se que as chuvas que caíram sobre vários bairros de Luanda na terça-feira, 18, deixaram um rasto de cinco mortes, 1500 pessoas desalojadas e muita destruição.