Ucrânia: Analistas dizem que abstenção de Maputo na ONU visou "não minar suas relações”

Verónica Macamo, ministra dos Negócios Estrangeiros de Moçambique

O Governo moçambicano não justificou a sua abstenção na votação da resolução da Assembleia Geral da ONU na quarta-feira, 2, que condenou a Rússia pela invasão da Ucrânia.

A chefe da diplomacia reitera a postura de Maputo a pedir diálogo, mas analistas políticos apontam que tal posição foi um sinal de que o Governo não quis minar as relações políticas, diplomáticas e económicas com a Rússia, Estados Unidos e a União Europeia.

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"Moçambique tem relações com a União Europeia que são muito fortes e recentemente este bloco anunciou o apoio ao combate ao terrorismo, também tendo em conta os projectos de gás natural na bacia do Rovuma, em que os países da União Europeia são potenciais compradores, analisando as relações históricas na área de defesa e segurança com a Rússia, Moçambique pode ter sido encontrado na contra-mão sem saber que posição tomar neste contexto daí a neutralidade", considera o analista político Gilder Aníbal.

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Por seu turno, o também analista político Wilker Dias diz que "Moçambique, como candidato a membro não permanente do Conselho de Segurança, era visível que tomasse esse posicionamento porque qualquer um deles poderia prejudicar o trajecto do país ao longo da história".

Dias sublinha que Maputo manteve a posição assumida no período da guerra fria.

"É importante frisar que a história já indica que Moçambique desde a guerra fria sempre fez parte dos não alinhados, que não pertencia nem ao lado ocidental nem ao lado da União Soviética e não poderia tomar uma posição diferente porque não se identifica com nenhum lado, permanecendo na neutralidade", conclui.

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A VOA contactou o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação para conhecer o posicionamento do Governo, mas uma fonte da instituição remeteu-nos aos pronunciamentos da ministra Verónica Macamo ontem.

“Guiados pelos princípios constitucionais da República de Moçambique que defendem a primazia da solução negociada dos conflitos, apelamos ao exercício da moderação, à protecção da vida humana, à cessação das hostilidades e ao relançamento de um diálogo construtivo entre as partes envolvidas, com vista a uma solução política duradoura do conflito”, lê-se no comunicado do Ministério.

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O mesmo comunicado diz que “a solução deverá ser baseada nos princípios cardinais da Carta das Nações Unidas, de modo a garantir a coexistência pacífica das partes em conflito, que responda de forma efectiva e sustentável às necessidades de segurança de todos os países da região”.

Ao todo 141 países votaram a favor da resolução da Assembleia Geral, 35 se abstiveram e apenas cinco votaram contra.

Entre os lusófonos, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Brasil e Portugal votaram a favor, Angola e Moçambique se abstiveram e Guiné-Bissau esteve ausente.