Washington,27 Dez,2010 - À medida que se aproxima rapidamente a data para o referendo sobre o Sul do Sudão, peritos advertem para o facto de ser necessária pressão de todas as partes para criar um ambiente estável tanto para a votação como para a possível divisão em dois daquele país dilacerado pela guerra.
Com menos de três semanas para a votação para decidir o futuro do maior país de África, o Sudão tornou-se numa bomba relógio observado nervosamente a partir de todos os cantos do globo.
Muitos esperam o impacto da separação do Sudão em dois países, mas há preocupação sobre como essa separação poderá gerar violência.
O ano de 2010 foi testemunha do último fôlego do acordo global de paz apoiado internacionalmente entre o Norte e o Sul, que se destinou a tornar mais atractiva da unidade entre ambas as partes ainda sob os efeitos de uma guerra civil de 21 anos.
O que resta desse acordo é o referendo do dia 9 de Janeiro. Apesar das perspectivas de perder a maioria das duas reservas de petróleo, as autoridades do Norte, incluindo o presidente sudanês Omar al-Bashir, concordaram em respeitar os resultados. Mas, nem tudo vai bem no que toca à votação.
Os governos do Norte e do Sul ainda têm que concordar num crucial acordo post-referendo, estabelecendo a partilha das receitas do petróleo e a demarcação da fronteira entre o Norte e o Sul.
Diversos países, como é o caso dos EUA têm pressionado grandemente ambas as partes para que cheguem a um acordo. Durante a reunião da Assembleia Geral da ONU de Setembro passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, realizou uma cimeira sobre o Sudão na esperança de obter um acordo.
O porta-voz do Departamento de Estado, P.J Crowley, voltou a pressionar no mesmo sentido durante uma outra cimeira realizada posteriormente na Etiópia. Disse Crowley: “Há responsabilidades claras assumidas por parte do Norte e do Sul. E, enquanto negociamos algumas das questões, este fim-de-semana, esperamos que ambas as partes – particularmente Cartum – necessitam de estar mais preparados para chegar a um acordo, quando tiver lugar o próximo encontro”.
Não obstante, nenhum acordo foi obtido. Estas disputas antigas têm agora sido agravadas pela recente decisão de atrasar o referendo simultâneo que deveria ter lugar na região de Abyei, rica em petróleo. Abyei fica junto à fronteira, ficou por decidir se irá juntar-se ao Norte ou ao Sul, mas elementos da comissão afirmam que questões logísticas forçaram o adiamento “por alguns dias”.
Muitos vêem estes desenvolvimentos com precursores da guerra, mas Zach Vertin do grupo Crise Internacional, que está sediado em Bruxelas, exortou a todas as partes para que sejam cautelosos: “O voto da auto-determinação irá ter lugar em Janeiro, mas não equivale automaticamente à independência. É mais natural que irá haver um período entre Janeiro e o fim dos acordos provisórios de paz de Julho de 2010, para negociar os restantes detalhes”.
Mas, a incerteza que rodeia o referendo deixou a fronteira demasiado militarizada. Elementos das forças armadas sudanesas montam guarda ao longo da fronteira Norte-Sul, a poucas milhas de distância de contingentes do Exército Popular de Libertação do Sudão, do Sul.
Ninguém acredita que o regresso à guerra vá beneficiar qualquer das partes, mas a complexidade da situação poderá fazer com que a questão saia do controlo das autoridades.
De acordo com uma sondagem sobre armas ligeiras, um dos focos da violência poderá muito bem não ser no Sul, mas do outro lado da fronteira. Se o referendo produzir uma separação, há muitas comunidades do Sul que podem ser deixadas abandonadas no Norte.
De acordo com aquela sondagem, o que é preocupante é uma maior marginalização poderá agravar o conflito, arrastando possivelmente o exército do Sul.
Uma forma possível de evitar o conflito naquelas regiões poderá ser através de “consultas populares”, através das quais poderão ser renegociados os termos do acordo geral de paz.
Mas, uma consulta popular deveria ter sido feita há muito tempo atrás. Com tão pouco tempo até ao início da votação, os observadores, os funcionários das agências de ajuda humanitária e os próprios sudaneses estão a preparar-se para o pior.