Raptos voltam a marcar terreno em Maputo e há quem fala em "captura do Estado" pelo crime

Estátua de Eduardo Mondlane na Avenida Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique. 3 de Fevereiro, 2022

Dois cidadãos de ascendência indiana foram raptados na semana passada, na cidade de Maputo, voltando a elevar o sinal de preocupação da comunidade empresarial na capital moçambicana.

A preocupação é maior quando a Procuradoria da República (PRG) revela que magistrados podem estar envolvidos no esquema de raptos.

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Raptos voltam a marcar terreno na cidade de Maputo e há quem fala em "captura do Estado" pelo crime - 2:20

Enquanto o país digeria o informe da Procuradoria Geral da República de 2021, que teve nos raptos um dos seus capítulos com números preocupantes, dois cidadãos eram raptados na cidade do Maputo.

A mais recente vítima é um jovem de 20 anos de idade, moçambicano de origem indiana, foi raptado à luz do dia no passado sábado no centro de Maputo.

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A polícia confirma a ocorrência e diz estar a trabalhar no sentido de resgatar o jovem e devolvê-lo à família.

"Estamos a trabalhar, junto com o SERNIC, para trazer de volta o jovem à família", disse Leonel Muchina, porta-voz da polícia ao nível da cidade do Maputo, sem, no entanto, avançar existência ou não, de pistas.

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Magistrados no esquema

No seu mais recente informe, a Procuradoria Geral da República indicou 14 processos levantados, de Janeiro a Dezembro do ano passado, correspondentes a perto de uma dezena de casos registados.

O mais grave, segundo o informe, é que por trás deste tipo de crime há envolvimento de magistrados.

Carlos Mondlane, presidente da Associação Moçambicana de Juízes, dá a mão à palmatória e diz que há tentativa de capturar o Estado pelo crime organizado.

"O crime organizado tende a sequestrar os defensores do Estado, designadamente, o Ministério Público, os advogados e nalguns casos até mesmo os juízes podem estar implicados”, admitiu.
Ainda assim, diz que a associação está atenta e há mesmo casos de "colegas" que foram expulsos, por causa de desvios de conduta.

"No ano passado, do lado da Magistratura Judicial, tivemos seis expulsões de juízes e de oito oficiais de justiça, por envolvimento com práticas criminais", disse Mondlane, apontando a corrupção e o desvio de fundos públicos como parte dos crimes praticados.

Sistema em podridão

O analista político Ismael Nhacucue considera que a situação dos raptos, em particular, atingiu um ponto completamente deplorável.

"Quando magistrados estão envolvidos em raptos é um sinal de podridão do sistema de justiça. É um sinal de que o sistema de justiça não funciona", concluiu.