Justiça é um conceito de que todos mais ou menos têm uma visão semelhante, mas quando a justiça tradicional entra em acção pode colidir com os detalhes dos conceitos adoptados pela justiça estatal.
Esta realidade ficou evidente num caso recente na província do Namibe, onde uma mulher acusada pelo marido de adultério teve que se despir no julgamento tradicional, algo impensável num julgamento estatal. Mesmo quando - como foi o caso – seja o marido que acabe por ser condenado e a mulher receba um indemnização.
O caso ocorreu na localidade de Kitchima Kiomué, em Matunda, na Comuna do Iona, Municipio do Tombwa, junto à fronteira com a República da Namíbia, onde um homem traído pelo sono, depois de ter ingerido bastante bebidas alcoólicas, viu que a sua esposa não estava na cama. Depois de seguir as peugadas até á margem de um rio deparou com a esposa em pleno acto sexual com um outro homem.
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O marido não viu outra forma de conter a fúria se não agredir o seu rival à cacetada, comportamento contrário às normas de conduta nesaas comunidades, no caso de actos de adultério.
O homem agredido pelo marido apresentou queixa ao soba local. Este, de imediato elegeu os séculos Tchilyanhama e Tchihuyahuya, um dos anciãos mais experientes na matéria de adultério, para redimir o conflito.
O marido argumentou que a sua agressão se deveu ao facto do agredido ter ferido a sua mulher.
Os dois anciãos mandaram a mulher envolvida no adultério retirar as roupas para mostrar os ferimentos que, na óptica do marido, teriam sido o móbil do espancamento ao homem acusado de estar com a sua esposa.
Um dos presentes ao julgamento, João Caladinho, inconformado, procurou cobrir a senhora com o seu casaco, mas não lhe foi permitido.
Os anciãos argumentaram que a sua acção era necessária para provar a culpa do marido na agressão.
O acórdão daquela instância tradicional condenou o agressor a pagar uma pena de 5 bois, dois dos quais a favor do homem agredido e outros dois a favor da esposa.
O quinto boi foi abatido a favor das comunidades locais.