Depois do encontro falhado com os candidatos presidenciais às eleições de 9 de outubro em Moçambique e da reunião do Conselho de Estado que recomendou uma revisão constitucional para despartidarizar os órgãos eleitorais, o Presidente da República reitera que as soluções para acabar com as manifestações contra o processo eleitoral devem ser à luz da legislação.
Mas há correntes de opinião que defendem a via negocial, tal como aconteceu durante a guerra civil em que os acordos assinados entre o Governo e a Renamo foram sempre políticos.
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Ao falar num encontro com empresários, que sugeriram uma solução política e não policial ou militar para a presente situação, Filipe Nyusi disse que isso pode abrir maus precedentes, ‘porque podemos estar fechados numa caixa e acreditarmos que temos melhores solucoes’’.
Descrédito total
O advogado Dias da Cunha entende que tendo em conta o facto de que as eleições decorreram num ambiente de crispação, ‘’sobretudo por falta de transparência e justiça, dificilmente pode-se pensar numa solução legal’’.
Aquele jurista explicou que Moçambique está num contexto de descrédito total das instituições de administração da justiça, incluindo a Procuradoria-Geral da República e os tribunais que sempre são acusados de andar a reboque do partido no poder e do Governo’’.
Veja Também Polícia tenta recapturar reclusos evadidos das cadeias moçambicanasAquele jurista explicou que Moçambique está num contexto de descrédito total das instituições de administração da justiça, incluindo a Procuradoria-Geral da República e os tribunais que sempre são acusados de andar a reboque do partido no poder e do Governo’’.
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Por seu turno, o também advogado Benildo Sitoi diz não entender a posição do estadista moçambicano, numa situação em que o país está em destruição, ‘’sobretudo tendo em conta que todas as crises que Moçambique já enfrentou foram resolvidas através de acordos políticos’’.
Veja Também Situação em Moçambique "preocupa" Lourenço e RamaphosaIgnesio Bila, igualmente advogado, considera que uma solução política é possível porque as três principais forças política moçambicanas, nomeadamente MDM, Renamo e Podemos, estão pré-dispostas a dialogar, faltando apenas a Frelimo, que não reconhece as irregularidades apontadas pela oposição durante o processo eleitoral.
Economia ressente
Entretanto, o empresariado moçambicano defende que enquanto se procuram soluções para a crise, se observe uma trégua nas manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, em protesto contra as eleições, que as considera fraudulentas.
Veja Também Moçambique: População vandaliza Reserva Nacional de ChimanimaniPara o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA, na sigla em inglês), Agostinho Vuma, ‘’uma trégua minimizaria o impacto das manifestações, que já resultaram em prejuízos de cerca de 24.8 milhões de meticais para os empresários’’.
Refira-se que um total de 16 pessoas, entre as quais quatro membros da polícia, morreram nos últimos sete dias nos confrontos entre as autoridades e manifestantes, na fase 4x4 de protestos convocados or Venãncio Mondlane.
Veja Também Moçambique: Conselho de Estado pede despartidarização dos órgãos eleitorais e diálogo para a produção de consensosNúmeros diferentes
Os números são do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) que aponta ainda para a existência de 73 feridos, entre membros da corporação e os manifestantes, apoiantes de Venâncio Mondlane, candidato presidencial que tem pedido protestos contra o que chama de fraude eleitoral.
O porta-voz da polícia acrescentou que só nos últimos sete dias, 11 postos policiais e três estabelecimentos penitenciários foram atacados
"Em conexão com estes factos criminosos, foram detidos 120 indivíduos", afirmou Orlando Mudumane, que ainda indicou que 63 infraestruturas públicas e privadas foram vandalizadas, 73 estabelecimentos comerciais saqueados e 12 residenciais incendiadas.
Entretanto, no balanço geral dos protestos iniciados a 21 de outubro a Plataforma Eleitoral Decide informou que um total de 110 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas.