Retrospectiva
Depoimentos
As manifestações populares de 1 e 2 de Setembro contra o elevado custo de vida em Moçambique tiveram lugar, faz hoje um ano.Mas, os distúrbios afectaram apenas a cidade e Província de Maputo, sendo que Chimoio e Tete, na região centro do País, foram timidamente abaladas.
Treze pessoas morreram e dezenas de outras ficaram feridas durante as manifestações em Maputo.
Viaturas, lojas, estações de abastecimento de combustíveis e outras infra-estruturas públicas e privadas foram destruídas pelos manifestantes.
O governo reuniu-se de emergência para tomar medidas de contenção da fúria popular. Cinco dias depois anunciou dois pacotes de medidas de redução do custo de vida, pela voz do Ministro da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia.
“O governo decidu anular o recente aumento de tarifa de energia eléctrica para os consumidores domésticos de escalão social nos consumos mensais de 100 kilowatts/hora. Reduzir os aumentos de tarifa da energia eléctrica dos consumidores cujos consumos situam-se entre 100 e 300 kilowatts/hora de 13.4 por cento para 7 %.Existem 600 mil consumidores domésticos de energia eléctrica em todo o País. As duas medidas abrangem 450 mil consumidores, o que representa 70 por cento dos consumidores domésticos da corrente eléctrica. Eliminar a dupla cobrança da taxa de lixo. Agora vai passar a ser feita uma única cobrança” – disse o Ministro Aiuba Cuereneia lendo o documento das medidas tomadas pelo governo no dia 7 de Setembro de 2010, tendo em vista reduzir o custo de vida em Moçambique, na sequência das manifestações populares.
Hoje, um ano depois, a situação é considerada estacionária, mas tensa.O governo reconhece que as medidas de choque contra o custo de vida são muito onerosas para os cofres do Estado e tentou ensaiar a introdução da cesta básica para as populações consideradas mais vulneráveis,mas a iniciativa morreu no papel,na sequência de acusações de que se tratava de um programa de exclusão social.
Para contornar a situação da crise, o governo tem estado a promover cortes substanciais dos orçamentos de instituições do Estado e contenção de despesas públicas. O Banco Central conseguiu travar a queda vertiginosa do metical, a moeda nacional, face às moedas estrangeiras, sobretudo o dólar norte-americano e o rande sul-africano. Foram adquiridos novos autocarros para reforçar a frota dos transportes públicos de Maputo e mantido o preço dos mesmos para evitar a repetição das manifestações populares de Setembro do ano passado.
A VIDA ESTÁ CADA VEZ MAIS DIFÍCIL
Contra o aumento do custo de vida, reclamando sobretudo pelo aumento das tarifas da energia eléctrica, da água, do pão e de outros alimentos básicos.Milhares de pessoas saíram às ruas, em Maputo e Matola.Foram dois dias de uma revolta popular que teve as zonas periféricas como epicentro.
Um ano depois do 1 e 2 de Setembro, praticamente nada mudou, apesar de o governo ter tomado medidas para conter a alta de preços.A vida está cada vez mais difícil.E mais complicada ainda para pessoas como Rute Silvestre Muianga,moradora do Bairro da Maxaquene A,subúrbios da capital moçambicana.
O funeral de Hélio Muianga foi feito no dia 4 de Setembro do ano passado e, até hoje, a mãe do menino não esquece o drama.E está triste, sobretudo porque até agora não teve apoio de ninguém.
A Liga dos Direitos Humanos de Moçambique tomou conta do seu caso, mas Rute Silvestre Muianga diz que está a ter dificuldades em apresentar provas ao Tribunal porque os médicos que atenderam o seu filho no Hospital não lhe entregam os resultados da autópsia, documento que poderá provar que, de facto, o seu filho morreu por ter sido baleado.
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Rute Muianga tem 30 anos.Tem,neste momento, dois filhos: uma menina de 2 meses e um garoto de 4 anos. É empregada doméstica. Recebe, por mês, dois mil meticais, o equivalente a cerca de 75 dólares americanos.Dinheiro que, ela diz, não dá para nada.
Rute está muito sentida,especialmente porque esperava que,no futuro, o filho, que estava na sexta classe e, segundo a mãe, era muito inteligente, obediente e prestativo,esperava que Hélio pudesse, um dia vir a ser alguém importante, que pudesse ter formação superior.
Rute Silvestre, mãe de Hélio Muianga, criança de 11 anos, uma das pessoas que morreram na sequência dos tumultos de 1 e 2 de Setembro do ano passado, em Maputo e Matola.Manifestações violentas que, de acordo com fontes oficiais, resultaram em prejuízos materiais superiores aos três milhões de dólares americanos.