Manifestantes reprimidos pela polícia durante protesto em Luanda

Baía de Luanda, Angola

A polícia angolana dispersou e prendeu este sábado, 22, cerca de dezasseis manifestantes, junto à Praça do São Paulo em Luanda.

"Não é do MPLA, a polícia é do povo. Não é do MPLA, a polícia é do povo". A frase é entoada pelas bocas dos manifestantes que protestam este sábado, 22, na Praça do São Paulo, em Luanda, Angola, contra o declínio económico e a repressão política no país.

Minutos após o início da manifestação, as autoridades policiais de Luanda dispersaram e prenderam cerca de dezasseis jovens, segundo pessoas entrevistadas pela VOA, que protestavam contra o que denominam de "empobrecimento dos angolanos, a insegurança nacional" e pela "liberdade dos presos políticos", bem como contra a possibilidade de um "terceiro mandato" do Presidente João Lourenço na República de Angola.

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Manifestantes reprimidos pela polícia durante protesto em Luanda

Os dirigentes do movimento Unidade Nacional para a Total Revolução de Angola (UNTRA) - que convocou a manifestação -, encontram-se entre os detidos, disseram à VOA membros da organização. A UNTRA informou que o protesto servia para demonstrar o desagrado face ao aumento do custo de vida, nomeadamente dos transportes, da elevada taxa de desemprego e níveis de criminalidade.

Luís Antunes, um dos manifestantes que escapou da detenção, descreve as ações dos agentes da polícia: “mais uma vez, é vergonhoso o que acontece neste país” disse.

“Quando os cidadãos reivindicam aquilo que o governo tem falhado, para dizer ao senhor presidente onde é que deve melhorar, o que deve fazer para servir o povo, ainda assim são torturados, são violentados nos seus direitos humanos, como se fossem ladrões. É lamentavel”, declarou, acrescentando que “os ladrões estão aí, escondidos. São os intocáveis”.

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Manifestantes reprimidos pela polícia durante protesto em Luanda

O cidadão Ernesto Luís apela ao fim da perseguição dos cidadãos que apenas reclamam por um país melhor. “Saímos à rua para discutir a subida dos preços. Então vamos viver assim, vão alterar os preços, nós também ficamos assim. Não temos emprego, não temos onde trabalhar. É por esse direito que nós saímos à rua a pedir ao nosso presidente da república, por favor, olhe a situação do povo. Já estamos cansados”, disse.

Amnistia Internacional pediu respeito pelos direitos

A Amnistia Internacional (AI) havia exortado a polícia angolana a respeitar os direitos dos manifestantes durante o protesto.

"A manifestação planeada para 22 de junho não deve ser uma ocasião para a polícia angolana prender arbitrariamente pessoas ou disparar contra manifestantes pacíficos com balas, gás lacrimogéneo ou canhões de água, como as forças de segurança fizeram repetidamente no passado", escreveu o diretor regional adjunto da AI para as Campanhas na África Oriental e Austral, numa nota divulgada na quarta-feira, 19.

A organização afirma ter documentado os atos da polícia angolana, que, segundo a AI tem" com frequência e ilegalmente disparado contra manifestantes com balas reais e gás lacrimogéneo e efetuado prisões em massa, entre outras violações, durante manifestações pacíficas desde 2020".

A VOA tentou obter declarações do superintendente chefe Nestor Goubel, porta-voz da Polícia Nacional em Luanda, mas não obteve até ao momento nenhum esclarecimento.