O Mali vive a sua pior crise desde a independência em 1960, segundo a Amnistia Internacional. Num relatório que publica esta quarta-feira este grupo dos direitos humanos diz que as deslocações das populações, os abusos dos direitos humanos e a falta de alimentos (que aliás se sente em toda a região do Sahel) atiraram com o país para uma crise depois de viver duas décadas de relativa estabilidade e paz.
Durante uma visita de três semanas ao Mali, os investigadores da Amnistia internacional, viram uma litania de abusos.
No relatório dizem que o norte do país está nas mãos de grupos armados que descrevem como “grupos de arrastão.”
Testemunhas dizem que os grupos armados de Tuaregue e de islâmicos praticaram uma série de abusos, incluindo violações sexuais, execução de soldados, e recrutamento de crianças soldado algumas com menos de 12 anos.
Salvatore Sagues, da amnistia, é um dos autores do relatório. Ele diz que os grupos islâmicos estão também a tentar impor novos comportamentos às populações.
“À população está a ser ordenado que deixe de beber álcool. Os homens têm que usar barba. As mulheres têm que envergar o véu. Os jovens não podem ouvir música a menos que seja religiosa. Os jovens não podem estar juntos se for um rapaz e uma rapariga que não sejam casados. E os que desobedeçam podem ser severamente castigados.”
Segundo o investigador uma pessoa acusada de beber álcool recebeu 40 chicotadas no corpo. E os abusos não se limitam aos grupos armados.
“O governo maliano também cometeu graves abusos dos direitos humanos. Tiveram como alvo a população Tuaregue. Bombardearam indiscriminadamente campos e mataram pelo menos 1 menina de 4 anos e outros Tuaregue.”
A crise no Mali surge durante uma severa falta de alimentos que atinge toda a região do Sahel e que segundo o programa Alimentar Mundial (PAM) afecta cerca de 15 milhões de pessoas.
Oficiais do exército tomaram o poder num golpe em Março afirmando que o governo fracassara em pôr termo à rebelião dos Tuaregue no Norte. Os rebeldes controlam agora dois-terços do país.
Apesar da pressão da Comunidade Económica da África ocidental, CEDEAO, e doadores ocidentais não é claro quando o país voltará a uma administração civil plena.
Sagues afirma que a transição é crucial se quisermos terminar os abusos.
“Enquanto a crise não for resolvida em Bamaco penso ser difícil existir uma posição unificada no resto do Mali relativamente à crise.”
Durante a missão de investigação ao Mali, os delegados da Amnistia visitaram Bamaco, a capital, e quatro campos de refugiados no Níger.