O bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau, António Nhaga, afirma que os profissionais do sector não podem aceitar o apelo do presidente José Mário Vaz porque seria admitir a censura.
"Aos jornalistas vou pedir só uma coisa. Vamos fazer como faz Cabo Verde. Se eu falar coisas que coloquem a Guiné-Bissau mal lá fora, cortem", pediu José Mário Vaz na segunda-feira, 26, em conversa com líderes muçulmanos.
“Nós somos as primeiras pessoas a combater a censura, sendo assim, não podemos ser os que vão aceitar a censura. Recordo ainda que, se a memoria não me falha, o Presidente da República foi quem, na sua tomada de posse, convidou os jornalistas a serem independentes e imparciais” disse António Nhaga.
Para o bastonário, o país está carente de uma cultura de organização e de política de comunicação e recomendou Vaz a aconselhar os membros do seu Governo a reavaliarem as suas abordagens públicas:
“Com o exemplo de Cabo Verde ele está a causar um incidente diplomático porque a imprensa cabo-verdiana pode agora perguntar ao Sr. Presidente, se tem prova daquilo que disse”, completou Nhaga.
Por seu lado, o jornalista e professor da sociologia na Universidade Lusófona da Guiné-Bissau, Diamantino Lopes, considerou que “o Presidente da Republica fez um apelo, de certo modo, desnecessário, inoportuno e inconsequente.
Reacções em Cabo Verde
Refira-se que a Associação de Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) classificou de "extremamente infelizes" as declarações do Presidente da Guiné-Bissau e acusou José Mário Vaz de revelar desconhecimento da imprensa do país.
A presidente da AJOC, Carla Lima, reagiu na terça-feira, 27, com "estupefação" às declarações de Vaz, que, no dia anterior, pediu aos jornalistas guineenses para não colocarem em causa a imagem do país.
Lima acrescentou que o Presidente guineense "foi extremamente infeliz ao citar Cabo Verde e os jornalistas cabo-verdianos e esperemos que a partir daqui possa acompanhar com maior atenção o que se faz em Cabo Verde para perceber que os jornalistas cabo-verdianos não estão, nem nunca estiveram, dispostos a serem censurados por quem quer que seja".