Fragilidade do sistema financeiro angolano "abre" portas ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo

Especialistas veem no relatório de Unidade de Informaçãoo Financeira de 2022 um retrato da realidade

A Unidade de Informaçao Financeira (UIF) diz no seu relatório anual referente ao ano de 2022 existir em Angola muitas ações e práticas em instituições financeiras como bancos, instituições não bancarias ligadas ao crédito e à moeda suspeitas de crime de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.

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Relatório revela branqueamento de capitais em Angola - 2:45

Estes indicadores resultam de diversos movimentos e comportamentos em distintas situações concretas nessas instituições que configuram suspeitas de práticas de branqueamento de capitais e mesmo financiamento ao terrorismo.

Especialistas e funcionários de bancos dizem admitir este tipo de práticas devido às fragilidades do sistema financeiro angolano.

O relatório da UIF fala de casos de potenciais clientes de bancos que possuem um montante elevado de valores mas abrem várias contas de forma a fracionar o valor total em diversas operações de montantes mais reduzidos, de modo a evitar que os limites estabelecidos sejam ultrapassados.

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De acordo com o documento, estas práticas também têm lugar em instituições financeiras não bancárias ligadas à atividade de seguradora e previdência social.

Altino Pedro, funcionário que passou por vários bancos comerciais, diz existir muitos casos nas nossas instituições bancárias de praticas de branqueamento de capitais devido à fragilidade do sistema financeiro.

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"Nós temos uma área ligada ao sistema financeiro nacional que faz o controlo destes casos de possíveis branqueamento de capitais que no fundo eu considero serem burlas, só que mais sofisticadas, isto existe entre nós e muito devido à ainda frágil situação do sistema financeiro angolano", diz Altino Pedro.

O economista Heitor Carvalho diz não acreditar que essas práticas sejam dos bancos como instituição.

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"Eu não acredito que sejam os bancos, há funcionários dos bancos que fazem exigências, para determinados empréstimos e operações, isto sim mas são funcionários dos bancos", sustenta aquele investigador da Universidade Lusíada de Angola.

A Voz da América tentou ouvir o Sindicato de Bancários Angolanos sobre o assunto, mas alegou só se pronunciar quando tiver acesso ao relatório da UIF.

Também a Associação de Bancos de Angola respondeu aos nossos pedidos.

O especialista em Finanças Damião Cabulo corrobora que o grande problema está na fragilidade do sistema financeiro.

"A falta de honestidade e caráter de muitos administradores de bancos e funcionários bancários intermédios, associada à falta de auditoria e gestão e transparência dos próprios bancos vão contribuindo para a fragilidade do sistema financeiro e logo o financiamento ao terrorismo", aponta Cabulo.

Tentamos ouvir o posicionamento de alguns bancos comerciais, mas sem sucesso.

O relatório da UIF aponta também várias operações suspeitas de branqueamento de capitais em instituições não bancárias ligadas à moeda e crédito, instituições não financeiras ligadas a seguradoras, casinos e negociadores de metais.