Falta dinheiro para alimentar todos os deslocados, vítimas do terrorismo na província moçambicana de Cabo Delgado. O Programa Mundial para a Alimentação (PMA) diz ter fundos para providenciar comida à população apenas até ao final de Abril.
Para continuar as atividades humanitárias e de desenvolvimento nos próximos seis meses, o PMA precisa de 76 milhões de dólares americanos e de um total de 148 milhões de dólares para o ano todo.
“Nós temos estado, de facto, preocupados com a continuidade da assistência aos deslocados. E, para este ano, está previsto que sejam assistidos 676.293 deslocados e que seriam necessários, para poder suprir esta assistência, 71.637 toneladas de produtos diversos. Mas este é um exercício, é um esforço que nós temos vindo a realizar juntamente com os nossos parceiros - porque nós temos trabalhado em coordenação com os vários parceiros - mas temos sentido uma resposta, por parte dos parceiros, que também têm vindo nestes últimos tempos a ter uma certa dificuldade em poder responder a esta nossa preocupação, porque eles também não estão muito bem, para poder ajudar”, diz a presidente do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD).
Até agosto de 2023, tinham regressado às suas zonas de origem mais de 545 mil deslocados. A previsão é, contudo, que permaneçam em locais de acolhimento, que incluem novas aldeias e famílias acolhedoras, perto de 600 mil pessoas.
Luísa Meque pede à comunidade internacional para não se esquecer de Cabo Delgado e lembra que a população daquela província ainda precisa muito de ajuda.
“Neste momento, para um período de seis meses, poderíamos estar a precisar de cerca de 142 milhões de dólares, para poder dar uma resposta em termos de apoio”, sublinha a responsável.
Pedido de ajudas, há mais deslocados
Devido à contínua redução dos fundos, o número de beneficiários do PAM diminuiu e apenas as pessoas consideradas mais vulneráveis passaram a receber o auxílio.
De um universo de um milhão e 200 mil pessoas, no início de 2022, o número de deslocados a receber ajuda do PMA passou para 750 mil, no fim do ano passado. A previsão para 2024 é apoiar, apenas, quinhentas mil pessoas, de dois em dois meses.
O Director Nacional Adjunto do PMA em Moçambique, Maurício Burtet, em conversa com a Voz da América, já fez saber que, se não existirem novos desembolsos financeiros, a partir de Maio já não será possível continuar com a assistência humanitária, nos moldes em que se realiza.
"Solicitamos o apoio de todos (do Governo, dos parceiros) para continuarmos a assistir Moçambique, não obstante entendermos que existem outras necessidades, em outros lugares do mundo, aqui na propria região, como temos a República Democrática do Congo, como temos Madagascar, como temos o nosso país vizinho Malawi. O apelo é para que mantenhamos o foco na região, mantenhamos o foco em Moçambique, para evitarmos a deterioração do conflito, da insegurança alimentar na região sul de África. Ver todos os indicadores como o El Nino, que está a bater à nossa porta, e que traz muita preocupação também e atacar as questões que previnem ou atrasem o desenvolvimento de Moçambique”, apontou Maurício Burtet.
Tanto o INGD como o PAM dizem estar atentos à nova vaga de deslocados que estão a chegar de zonas atacadas nas últimas semanas por grupos terroristas.
A província de Cabo Delgado está a ser fustigada por ataques terroristas desde outubro de 2017.
O conflito provocou mais de um milhão de deslocados e os dados estatísticos disponíveis indicam que já há cerca de quatro mil mortos.