Diversas personalidades que defendem a autonomia política e administrativa para Cabinda manifestam-se “desiludidas” com o facto de, no discurso que proferiu nesta segunda-feira, 24, em Dakar, no Senegal, o Presidente da República não ter incluído o conflito político e militar que persiste naquela província angolana há quase 50 anos.
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Na 8.ª edição do Fórum de Paz e Segurança em África, que começou ontem e termina hoje, João Lourenço assegurou que Angola “não poupa nenhum esforço ao seu alcance” para contribuir para o fim de conflitos no continente africano, face à sua “experiência e história recente”.
Veja Também EUA elogiam esforços de João Lourenço para a manutenção da paz e estabilidade nos Grandes Lagos“Estamos aqui para fazermos uma profunda reflexão sobre as consequências dos conflitos armados sobre a vida das populações e sobre a economia dos nossos países tendo em conta a necessidade de encontrarmos as melhores soluções para pormos fim definitivo a um fenómeno que nos persegue desde os anos sessenta, década das nossas primeiras independências e que tem vindo a condicionar o desenvolvimento económico e social do nosso continente”, disse.
Em reacção, Jorge Lima, líder dos Democratas Liberais de Cabinda (DLC), afirma que “não adianta fazer discursos bonitos sobre a paz noutros países e manter-se calado em relação ao conflito que existe dentro do território angolano”.
Veja Também Oposição angolana "chumba" estado da nação apresentado pelo PresidenteAquele responsável defende que, em fóruns como o que aconteceu no Senegal, o Presidente angolano devia reconhecer que existe no seu próprio país um conflito armado que precisa de ser resolvido, se necessário, com a ajuda de outros países do continente.
Por seu turno, o responsável da União dos Cabindenses para a Independência (UCI), Maurício Gimbi, considera o discurso do Presidente “uma hipocrisia política”.
Aquele líder independentista diz que o discurso pacifista de João Lourenço contrasta com o esforço de guerra que se assiste em Cabinda.
“Haverá uma altura em que o Governo do MPLA não conseguirá esconder o conflito de Cabinda”, afirma.
Veja Também João Lourenço reafirma combate à corrupção mas não dá datas para eleições autárquicasPara o conhecido advogado, Arão Tempo, líder do Movimento de Reunificação do Povo de Cabinda para a sua Soberania (MRPCS), o discurso de João Lourenço denota o que chamou de “falta de noção de Estado”.
Tempo também acusa o partido no poder de, alegadamente, não ter “qualquer programa para resolver o conflito de Cabinda” contrariamente ao que terá prometido aquando da Luta de Libertação Nacional .
“Em Cabinda existem partidos independentistas e um braço armado. Tem de ter um plano próprio sobre como resolver este problema porque não é um pequeno conflito mas um grande conflito”, defende, Arão Tempo.
A oitava edição do Fórum de Dakar termina hoje no Centro Internacional de Conferências de Diamnadio (CICAD) sob o lema “África face aos impactos dos choques exógenos: desafios da estabilidade e da soberania”.