Em entrevista ao "Fala África", o educador e pesquisador angolano Chocolate Brás compartilhou reflexões profundas sobre o desenvolvimento das políticas educacionais em Angola e os desafios enfrentados na implementação da educação a distância. Com vasta experiência acadêmica, Brás destacou a importância da formação de professores e o impacto das políticas internacionais no sistema educacional angolano entre 2010 e 2022.
Brás, doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná, Brasil, iniciou a conversa ressaltando o momento de transformação que Angola viveu após a promulgação da primeira Constituição da República, em 2010.
“Angola vai viver um momento especial do ponto de vista político, social, econômico. A partir de 2010, estamos a falar de um momento de virada, porque é aprovada a primeira Constituição da República de Angola”, explicou. Segundo ele, esse período foi marcado por avanços na valorização dos direitos humanos e da dignidade dos cidadãos, mas também por uma crescente dependência de organismos internacionais na elaboração de políticas educacionais.
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O educador destacou a crescente influência de entidades externas como o Banco Mundial, Unesco, UNICEF e a União Europeia no sistema de educação angolano. “Há uma maior valorização de entidades externas em comparação com os atores locais. [...] O Banco Mundial e a União Europeia vão ter grande peso nas políticas de formação de professores”, afirmou, mencionando projetos como o "Aprendizagem para Todos" e o "PREPA", ambos financiados por organismos internacionais.
Brás, que atuou como Chefe do Departamento de Formação Contínua e a Distância no Ministério da Educação, compartilhou as dificuldades encontradas na implementação da educação a distância em Angola. Ele mencionou a precariedade dos serviços básicos como um dos maiores obstáculos: “Estamos a falar de um país em que mais de 25% da população urbana não tem acesso à eletricidade. No meio rural, essa percentagem é ainda maior. [...] Em cada 10 pessoas, somente uma possui um computador pessoal.”
No entanto, apesar dos desafios, soluções inovadoras foram implementadas para garantir a continuidade da educação, principalmente durante a pandemia de COVID-19. O educador destacou a importância da iniciativa de teleaulas via televisão e rádio, apoiada por organizações como a Unesco e o Banco Mundial, que permitiu o acesso a parte da população. Ainda assim, um estudo realizado em 2021 revelou que mais de 23% das crianças do ensino primário não tiveram acesso a essas teleaulas devido à falta de eletricidade ou de aparelhos televisivos.
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Em uma reflexão pessoal e emocionada, Chocolate Brás fez questão de homenagear os professores que marcaram sua trajetória educacional, desde a infância até o doutorado. “Eu sou resultado da escola pública angolana. [...] Os professores me salvaram. Eu podia ter tido um outro destino, mas foram os professores que me fizeram. O Chocolate Brás de hoje é resultado desses professores e desse trabalho abnegado”, declarou.
Ao finalizar a entrevista, Brás deixou uma mensagem de incentivo aos jovens angolanos e à comunidade educacional, ressaltando a importância da formação contínua e da valorização dos profissionais da educação. “Não vejo a possibilidade de separar a qualidade de ensino da qualidade do profissional que faz o ensino. [...] Invistam em vocês, capacitem-se, porque o país não é dos políticos, o país é nosso. Nós é que vamos fazer o país acontecer”, concluiu.
A entrevista de Chocolate Brás no "Fala África" oferece um panorama crucial sobre os desafios e as oportunidades do sistema educacional angolano, trazendo à tona a importância do investimento em educação como motor para o desenvolvimento do país.