EUA e Paquistão tinham acordo secreto sobre caça a Bin Laden

Os presidentes Pervez Musharraf (esq) do Paquistão, George W. Bush (centro), dos Estados Unidos e Hamid Karzai do Afeganistão, na Casa Branca, em 2007

Então Presidente Bush tinha beneplácito paquistanês para "acção unilateral" contra o chefe da al-Qaeda

O Paquistão autorizou os Estados Unidos a executarem, uma “acção unilateral” contra Osama Bin Laden, se o detectassem em território o paquistanês.

Segundo o jornal londrino “The Guardian”, o acordo secreto foi feito em 2002, pelos então presidentes Pervez Musharraf e George W Bush.

Um ano depois do 11 de Setembro, Osama Bin Laden fugiu do Afeganistão e escondeu-se, algures, no Paquistão.

Os presidentes Pervez Musharraf e George W Bush fizeram um acordo secreto: se os Estados Unidos tivessem informação sobre o seu paradeiro, podiam executar um raid unilateral, como o que foi desencadeado na semana passada.

Pervez Musharraf era presidente do Paquistão aquando dos atentados de 11 de Setembro de 2001, e permaneceu no poder até 2008.

O acordo previa acções idênticas contra os números 2 e 3 da al-Qaeda, e estava tudo previsto, incluindo uma reacção fortíssima dos paquistaneses, para consumo da opinião pública interna, sem retaliação contra os Estados Unidos.

Ainda segundo o jornal, os paquistaneses davam um seu acordo de princípio ao raid, mas não seriam informados previamente.

O "The Guardian" cita fontes americanas e paquistanesas que pediram o anonimato, e adianta que o acordo foi reafirmado pelos dois países, em 2008, quando o General Musharraf transferiu o poder para um governo civil.

Nos últimos dias, parece ter sido isso que se passou: os paquistaneses disseram que não sabiam de nada; que o raid americano foi uma violação da sua soberania e que se reservavam o direito de responder pela força a uma acção semelhante no futuro.

Casa de Abbottabad, Paquistão, onde Bin Laden foi morto

Em público, até Musharraf, agora a viver em Londres, denunciou o raid em que Bin Laden foi morto. Mas uma fonte paquistanesa disse ao jornal que os americanos estavam a cumprir o seu lado do acordo; enquanto uma fonte americana disse ser do conhecimento dos Estados Unidos o tipo de reacção oficial que viria do Paquistão.

Mas esse acordo parece pertencer ao passado. O actual governo paquistanês é menos pró-americano do que o de Musharraf e ficou visivelmente agastado, sobretudo os seus militares e serviços secretos, por não ter sido notificado previamente – isto porque os Estados Unidos receavam que Bin Laden fosse informado sobre o ataque.

O sinal de afastamento entre os dois países foi a revelação públiuca, em jornais paquistaneses, pela segunda vez em cinco meses, do nome do chefe de estação da CIA do Paquistão.

Segundo o jornal "New York Times", responsáveis americanos consideram a acção paquistanesa uma tentativa “deliberada” de prejudicar o trabalho da CIA naquele país.

Da primeira vez, o chefe da CIA saiu do Paquistão face a numerosas ameaças de morte Quanto a este, para já, não há indicação de que tencione regressar aos Estados Unidos. Mas parece ser mais difícil, a partir de agora, a colaboração entre oos dois serviços secretos.

Um general paquistanês citado pelo "New York Times" desabafou: “Agora vamos ter que levar com 10 anos de filmes de Holywwod sobre este raid".