Os peritos da Economist Inteligence Unit (EIU), da revista The Economist, consideraram na semana passada que se o atraso nos pagamentos dos salários aos funcionários públicos em Angola tornarem norma pode ser um foco de agitação social.
De acordo com o estudo, em Angola os atrasos salariais já não são inéditos, e em Fevereiro deste ano o próprio ministro das Finanças reconheceu ter pago apenas 73 por cento dos salários da função publica.
As reacções de especialistas em Angola são divergentes.
Your browser doesn’t support HTML5
Agostinho Sicato professor universitário, diz não acreditar muito na tese de haver convulsões sociais em Angola “na medida em que o medo imposto pelo regime no poder inibe qualquer possibilidade de agitação social”.
Este sentimento reprimido, adverte o psicólogo social Carlinhos Zassala, tem um limite.
''A convulsão social não é um risco só pelo atraso do salário mas também em relação à dívida publica acumulada pelo não pagamento dos subsídios previstos por lei”, alerta Zassala, lembrando que, do ponto de vista psicológico, “todo o ser humano tem um limite de tolerância, e que quando se ultrapassa este limite ele frustra-se, torna-se agressivo e violento''.
Por seu lado, o economista Faustino Mumbica considera que o cenário de convulsões sociais devido a atrasos no pagamento de salários e outros obstáculos económicos são inevitáveis.
“Não há como se evitar o presságio de convulsões sociais, os funcionários quando não recebem os seus ordenados para sustentar as suas famílias e se apercebem que as causas são fundamentalmente de má gestão dos dirigentes aí não há como evitar agitação social'', concluiu aquele economista.
As advertências
Os especialistas da Economist Intelligence Unit (EIU) advertiram no estudo enviado aos investidores que o MPLA pode, se a sua hegemonia for ameaçada, “aumentar a repressão, as detenções preventivas de activistas e a imposição de pesadas sentenças a críticos mediáticos”, como aconteceu com os 17 activistas condenados a penas de prisão que vão de dois anos e oito anos e seis meses.
Na base do “alerta”, a EIU admitiu o aumento de protestos devido à crise financeira e económica decorrente da redução do preço do crude no mercado internacional que, por sua vez, obrigou a cortes significativos no Orçamento Geral do Estado e, em especial, nos sectores sociais.
Por isso, diz ainda a revista, a economia angolana deverá crescer apenas 1,1 por cento e não 3,3 por cento como dizem o Governo e organizações internacionais.
Aqueles especialistas consideram ainda que o Programa de Financiamento Ampliado em discussão com o Fundo Monetário Internacional deverá priorizar o reequilíbrio da economia e ter "um forte foco nas reformas estruturais".