Os governos da Rússia e da Ucrânia enviaram representantes a Maputo para conseguir o apoio diplomático de Moçambique, apesar do Governo de Filipe Nyusi dizer que a sua posição é de neutralidade.
A recepção, no entanto, não esteve ao mesmo nível e analista político vê violação da Consituição.
Your browser doesn’t support HTML5
A embaixadora da Ucrânia para Moçambique foi recebida pela ministra do Interior, enquanto a presidente do Conselho Federal da Rússia (Senado) mereceu honras de Estado no Assembleia da República, onde rubricou memorando de entendimento para reforçar a cooperação bilateral.
A representante de Kyiv para Moçambique, com escritório em Pretória, África do Sul, esteve na segunda-feira em Maputo.
Liubobov Abravitova tentou encontros ao mais alto nível, mas o máximo que consegui foi uma audiência com a ministra do Interior Arsénia Massingue.
Durante largos minutos de conversações e trocas de impressões, a ministra moçambicana reiterou a posição oficial do país perante o conflito, que é de neutralidade e apelo ao diálogo.
"Moçambique optou pela neutralidade e esta posição decorre da nossa Constituição, que defende a resolução de diferenças através do diálogo, e foi isto que dissemos à embaixadora" disse a ministra, falando à imprensa, no final da audiência.
Veja Também Nyusi e Ramaphosa pedem à ONU para intermediar diálogo entre a Ucrânia e RússiaRússia com honras
Um dia depois da visita da diplomata ucraniana, chegou a Maputo Valentina Mathienko, a presidente do Conselho Federal da Rússia, foi recebida no Parlamento, com honras, e após encontro com a presidente da Assembleia da República, acompanhado por representantes das três bancadas parlamentares (Frelimo, Renamo e MDM), foi assinado um memorando para reforçar as relações bilaterais.
"As nossas relações remontam ao tempo da luta de libertação nacional e essas relações se mantêm até hoje. Durante as nossas conversações acordamos que a Rússia vai providenciar mais bolsas de estudo para moçambicanos em diferentes áreas, para além daquelas onde os moçambicanos já estão a ser formados" explicou Esperança Bias.
Abravitova foi , depois, recebida pelo Presidente da República, Filipe Nyusi e agradeceu a posição que o país está a ter no conflito.
Neutralidade questionada
As posições adoptadas na recepção aos dois enviados são vistas por alguns analistas como inequívoca para o que é, efectivamente, a opção de Moçambique, entre os dois beligerantes.
Mohamad Yassine, especialista e analista de assuntos internacionais e diplomacia, diz que a posição oficial de Moçambique é contraditória com o que define a Constituição da República, pelo que o Governo deve se retratar.
"Qualquer posição que Moçambique tiver que tomar tem sempre que ter em conta dois aspectos: Primeiro, que a presença na Organização das Nações Unidas visa levar a voz dos moçambicanos no sentido de promover a paz e segurança no mundo, por outro lado, é preciso olhar para a intergovernabilidade da nossa Constituição, que faz referência à salvaguarda da soberania e integridade de outros Estados, ou seja, visa uma política de paz, um bem comum que está em causa na Ucrânia" recorda o analista politico, para quem a abstenção de Maputo "é contra a Constituição da República".
Recorde-se que durante a votação que a ONU realizou sobre o conflito russo-ucraniano, Moçambique se absteve, evitando apoiar ou condenar a ofensiva.