Economistas angolanos admitem que o país pode não ter capacidade de produção interna, a curto prazo, para gerar benefícios económicos da anulação da tarifa de importação de produtos angolanos, decidida pela China.
Mas há quem considere a intenção chinesa uma grande oportunidade para exportar para aquele mercado produtos agrícolas com qualidade já reconhecida em outros mercados internacionais.
Pequim anulou a tarifa de importação de 98 por cento dos produtos de Angola, Gâmbia, República Democrática do Congo (RDC), Madagáscar, Mali e Mauritânia, uma medida que entra em vigor a 25 de dezembro.
Carlos Rosado de Carvalho, economista e jornalista, considera “um gesto político e de boa vontade” a intenção chinesa, mas manifesta-se céptico quanto aos resultados imediatos da decisão chinesa para a economia angolana.
“O destino deste programa é o mesmo do AGOA americano e acho que não ter resultados práticos concretos porque Angola e a África simplesmente só exportam e quando produzem os produtos são muitas vezes pouco competitivos em termos de preços e, quando o são, têm problemas em termos de certificações”, diz.
Por sua vez, o empresário, José Severino considera que a decisão do Governo chinês vem abrir portas principalmente para os operadores económicos chineses que beneficiam de financiamentos de bancos do seu país para investirem em Angola.
“Nós que não conhecemos o mercado chinês somos ultrapassados pelos operadores chineses”, diz Severino.
O economista e especialista em gestão de empresas Estevão Gomes entende que a medida chinesa “não terá benefício relevante para economia angolana , a curto prazo, a menos que o Governo aplique políticas internas para o aumento da produção agrícola”.
“Incentivar as iniciativas não só das cooperativas, mas de organizações estrangeiras como é o caso da parceria com os agricultores americanos, porque a que gente produz nem chega para as necessidades internas”, lembra Gomes.
Por seu lado, o também ecomomista Nataniel Fernandes opinia que “é uma boa notícia, mas agora vamos ver se teremos a capacidade de produção interna para aproveitar essas oportunidades”.
Ele considera que o incentivo fiscal chinês “pode facilitar projetos que poderiam não ter viabilidade com os impostos que aquele país tinha antes".
Fernandes reconhece, contudo, que “a nossa capacidade de produzir e financiar projetos e depois torná-los viáveis, não temos um bom histórico nisso e há muitas debilidades nisso", com empresas e projectos a morrerem prematuramente.
Galvão Branco, economista e gestor de empresas, diz, por sua vez, que Angola tem capacidade para introduzir produtos agrícolas no mercado chinês desde que tenham a qualidade para competir com os de outros países africanos.
“Esta é que é a grande questão”, aponta Galvão Branco que considera, ainda assim, que o país está em condições para exportar a banana, o peixe e o marisco para China a par do petróleo e dos diamantes.
A decisão chinesa
A Comissão de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado da China, que anunciou a decisão, afirmou que ela visa simbolizar “o espírito de amizade e cooperação China-África” e facilitar “uma comunidade China-África de alta qualidade com um futuro partilhado”.
Pequim tem aumentado a importação de produtos agrícolas de África, nomeadamente de abacates, castanhas de caju, sementes de sésamo e malaguetas, à medida que a agricultura se torna o novo foco do seu envolvimento com o continente.
Nos últimos dois anos, outros 21 países africanos já se tinham beneficiado da anulação de tarifas sobre 98 por cento dos seus produtos.
O Presidente chinês introduziu os cortes tarifários em 2021 durante o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) realizado em novembro de 2021 na capital senegalesa, Dakar, quando prometeu abrir “vias verdes” para as exportações agrícolas africanas para a China, expandir a gama de produtos cobertos pelo tratamento de tarifa zero e acelerar o processo de vistos.
Xi Jinping disse na altura que o seu país pretende importar produtos no valor de 300 mil milhões de dólares de África até 2024.
Dados da Administração Geral das Alfândegas da China revelam que o comércio entre a China e África atingiu 234,8 mil milhões de dólares nos primeiros 10 meses de 2023.
As exportações para a China ascenderam a 91,5 mil milhões de dólares no valor de 2023.