A confirmação da vitória de Joe Biden nas presidenciais americanas vai ser atrasada depois de 11 senadores Republicanos terem anunciado que tencionam pôr em causa os resultados em seis estados certificados pelo Colégio Eleitoral e pelas autoridades locais.
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Isto ao mesmo tempo que hoje (5 de Janeiro) os eleitores na Geórgia votam para decidir quem vai controlar o Senado americano, algo que será de grande importância para a governação do próximo Presidente.
Com efeito, no último passo formal para se confirmar a vitória de Biden, o Congresso americano reúne-se amanhã, quarta-feira, naquilo que deveria ser uma cerimónia rápida em que, de acordo com a lei, o vice-presidente lê os resultados apresentados pelo Colégio Eleitoral da votação em cada estado e depois, perante a aclamação das duas câmaras, confirma o vencedor.
Mas estas não foram eleições normais. Desde que a vitória de Biden foi anunciada, a campanha de Trump tentou, em diversos estados, anular em vários tribunais os resultados alegando irregularidades, algo que foi rejeitado aos mais altos níveis, incluindo pelo Tribunal Supremo.
Naquilo que foi visto como uma última tentativa de alterar os resultados na semana passada, um grupo de congressistas Republicanos foi a tribunal argumentar que a lei limitando o poder do vice-presidente na cerimónia de amanhã a apenas confirmar os votos do Colégio Eleitoral era ilegal e que este tem o poder de aceitar delegados alternativos ao Colégio Eleitoral em estados onde há disputa sobre os resultados.
Um tribunal no Texas rejeitou a acção mas ainda não está tudo definido.
Onze indomáveis Republicanos
Agora 11 senadores Republicanos anunciaram que amanhã irão opôr-se à confirmação dos resultados em seis estados ganhos por margens pequenas por Joe Biden.
O senador Ted Cruz foi quem organizou esta campanha e foi cuidadoso ao afirmar que a sua intenção é a de apenas esclarecer o que se passou.
“Fomos para estas eleições com o país profundamente dividido, profundamente polarizado e nos últimos dois meses houve alegações sem precedente de fraude eleitoral e isso produziu uma desconfiança muito, muito profunda no nosso processo democrático através do país”, disse Cruz para quem o Congresso tem a “obrigação da fazer algo sobre isso....de proteger a integridade do sistema democrático”.
O senador disse que é intenção do grupo “levantar objecções à aprovação para se forçar a nomeação de uma comissão eleitoral de emergência para levar a cabo uma auditoria dos resultados eleitorais, que avalie estas declarações sobre fraude”.
Cruz disse estar convencido que essa comissão poderia fazer o seu trabalho até à tomada de posse do novo Presidente nos finais deste mês.
Objecções vão provocar debate durante muitas horas com milhares de manifestantes pró Trump nas ruas
O que se vai passar amanhã portanto é que ao abrigo da lei, caso haja uma objecção, as câmaras têm duas horas para debater e resolver a questão.
Como os Democratas controlam a Câmara dos Representantes isto poucas ou nenhumas possibilidades tem de ter sucesso. Mas aquilo que deveria ser uma questão de um hora ou menos vai sem dúvida prolongar-se durante todo o dia, senão mesmo pela noite fora tendo em conta o número de objecções a serem levantadas pelos 11 senadores e as respostas às suas objecções.
E com milhares de apoiantes do Presidente Trump nas ruas de Washington, convocados pelo próprio Presidente, há receios de violência.
O senador Democrata Chris Murphy disse que embora não haja possibilidade do Congresso modificar o resultado eleitoral há agora um perigo para a Democracia americana.
“Aquilo que estão a fazer é alimentar no público americano e certamente entre os apoiantes da linha dura de Trump esta crença de que as eleições são ilegítimas e cada vez que um Democrata ganha dever ser ilegítimo”, disse o senador Murphy para quem “isto em última análise poderá levar ao derrube da democracia".
“A um dado momento haverá uma tentativa com sucesso de Republicanos a nível estadual ou nacional de anular uma eleição legítima apenas porque um Democrata ganhou”, disse.
“Estes esforços não vão mudar o resultado das eleições mas constituem uma ameaça grave à democracia americana, talvez não agora mas dentro de dois ou quatro anos”, acrescentou o senador que falava à cadeia de televisão MSNBC.
Controvérsia divide Republicanos em dia em que Geórgia vota para decidir controlo do Senado
Hoje os eleitores na Geórgia estão a votar na segunda volta de eleições para o Senado. Em jogo dois lugares e os Republicanos manterão o controlo do Senado caso vençam apenas um desses lugares.
Mas entre os Republicanos há agora um enorme receio de que as alegações de Trump e dos seus apoiantes estejam a afectar negativamente as suas possibilidades.
Isto porque a Geórgia foi um dos estados em que Biden venceu por margem muito pequena e em que Trump diz ter-se registado fraude eleitoral, algo rejeitado pelo governador estadual, um Republicano e pelo Secretário de Estado da Geórgia, também Republicano, que supervisiona as eleições no estado.
No fim-de-semana, o jornal Washington Post publicou uma gravação de um telefonema de uma hora em que o Presidente Trump tentou convencer senão mesmo intimidar o Secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensberger, a mudar o resultado das eleições nesse estado.
“O povo da Geórgia está irritado, o povo americano está irritado e ... sabes, não há nada de errado em dizeres que recalculaste”, disse Trump a determinado passo da conversa depois de aludir a votos falsos e destruição votos a seu favor.
“Bem senhor Presidente o desafio que você tem é que os dados que você tem estão errados”, respondeu Raffensberger que veio agora a público dizer que se está a analisar a hipótese de uma acção judicial contra Trump.
As divisões dentro do Partido Republicano são agora enormes e em aberto. Vários Republicanos como Paul Ryan, Liz Chenney, Tom Cotton e outros vieram a público condenar as acções dos senadores durante a confirmação dos votos amanhã e as acções do Presidente Trump.
E isto pode significar que muitos eleitores Republicanos não estejam hoje a votar para se decidir quem vai controlar o Senado.
As últimas sondagens indicam uma ligeira vantagem para os dois candidatos Democratas mas dentro da margem de erro de 3%.