Camponeses que perderam terras para megaprojectos florestais, minerais e de gás nas regiões centro e norte de Moçambique, alertam para o aumento da pobreza no país.
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Trata-se de camponeses das comunidades rurais de Manica, Sofala e Zambézia, no centro e Nampula, no norte de Moçambique, largamente atingidos por megaprojectos, que reunidos em Nhamatanda (Sofala), no terceiro encontro das comunidades rurais, produziram uma declaração de repúdio.
“Nos corredores de Nacala e Beira, assistem-se a implementação de programas e projetos de investimentos nas áreas de agricultura com foco para o agro-negócio e plantações florestais, mineração e gás, que geram conflitos de terra e alteração de modos de vida das comunidades rurais, concorrendo para o agravamento da pobreza” alertou Dionisio Mapoteia, camponês e activista social.
Na reunião realizado sob o lema “construindo alternativas soberanas para o desenvolvimento das comunidades rurais,” os camponeses denunciaram a usurpação de terras por projectos desenhados e implementados pelo governo e privados, a marginalização dos camponeses, deslocações e reassentamentos forçados, insistindo que “os processos consultivos nas comunidades não são democráticos”.
Os camponeses, integrados nas organizações da sociedade civil e movimentos sociais das quatros províncias, reuniram-se para aumentar a consciência cívica em defesa de bens e terras e construir alternativas para a sua qualidade de vida.
O grupo criticou o modelo estatal de desenvolvimento assente no agro-negócio e a elaboração de políticas e programas de desenvolvimento inadequados e sem consultas comunitárias, salientando que se priorize o desenvolvimento das zonas rurais.
“Exigimos a devolução de machambas e áreas das comunidades rurais usurpadas em Manica e Zambézia, e outros projectos de plantação florestal, mineração, gás, entre outros”, enfatizou Mapoteia.
Fernando Catawa disse à VOA que perdeu a sua terra na zona Mira 26, em Savane (Sofala) para um projecto de plantações florestais, que actualmente marginaliza os nativos,após compensações injustas e insultuosas.
Outra camponesa, Ecita Simone, disse que foi aliciada com promessa de 50 anos de emprego por uma firma portuguesa de plantação de aucaliptos em Gondola (Manica), mas que agora é forçada a deixar a sua machamba e habitação para dar lugar a florestação, sem alternativas a terra.
O responsável da organização Acção Académica para o Desenvolvimento das comunidades rurais (ADECRU), que promoveu a iniciativa, reconheceu que as reclamações dos camponeses são generalizadas nas áreas de implementação dos megaprojectos em Moçambique, insistindo nas falhas das políticas estatais.
“Definitivamente, o governo deve repensar nos megaprojectos, porque há reclamações em todas as zonas de implementação”, disse Jeremias Mondlane.
O activista social disse que a organização, que também é contra a implementação do Prosavana, por ser mau para as comunidades, iniciou uma caravana de solidariedade com outras organizações nas comunidades afectadas pelos programas e projectos e ajudar em soluções pacíficas.