A intervenção ruandesa no apoio ao combate ao terrorismo em Moçambique, concretamente na província de Cabo Delgado, norte do país, continua a levantar muito debate, com analistas a questionar a alegada solidariedade.
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Depois das declarações do chefe do governo de Kigali, Paul Kagame, negando que haja qualquer financiamento da França ou de outro país nas operações militares, questiona-se: Haverá mesmo almoços grátis?
Kagame disse que a intervenção dos seus militares é financiada pelos contribuintes ruandeses.
Albino Forquilha, analista de assuntos militares, diz que negar que haja financiamento de Paris ao exército ruandês, é apenas um exercício político para proteger questões de soberania.
Veja Também Kagame diz que ninguém financia operação militar em Moçambique onde há "terroristas" do Ruanda"Ruanda é uma país pequeno e uma economia, também não muito desenvolvida e, se arriscasse entrar neste contesto, com todos os custos de uma operação que não se sabe quanto tempo vai levar, teria de reflectir muito para ver se entraria nestes termos ou não", diz Forquilha.
Continuando, o analista afirma que o Ruanda "se entrasse com custos próprios, provavelmente traria um contingente pequeno, tal como fez Angola, por exemplo."
Prestígio para Kagame
Por outro lado, Forquilha diz que há interesses ocultos transcritos em acordos de cavalheiros "provavelmente" existentes entre Maputo, Kigali e Paris.
Já o jornalista português Nuno Rogeiro, que segue a situação em Cabo Delgado, entende que a perspectiva de financiamento francês às acções militares de Kigali, faz parte das teorias de conspiração e aponta as motivações de Paul Kagame nesta intervenção.
Veja Também "O Cabo do Medo": De al-Shabab a Daesh, uma incursão em Moçambique"A primeira razão, acho eu, é de que o Ruanda tem sido criticado, nos últimos anos, pela política - dita autoritária - levada a cabo pelo presidente Paul Kagame, e uma das coisas que ele precisava fazer era reganhar o prestígio internacional e a intervenção, até agora bem sucedida em Moçambique, trouxe-lhe esse prestígio," diz Rogeiro.
Assumindo que, contrariamente à SADC que está em Moçambique numa missão de curto prazo, o Ruanda promete ficar até a queda do último reduto dos insurgentes, Rogeiro entende que Kigali não tem como aguentar custos dessa envergadura e, tarde ou cedo, vai apresentar a factura.
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