Os terroristas que atuam em Cabo Delgado, norte de Moçambique, poderão expandir as suas incursões, enquanto as autoridades de defesa e segurança concentram a sua atenção na dispersão de manifestantes contra os resultados eleitorais, dizem especialistas.
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Para responder às manifestações convocadas por Venâncio Mondlane, candidato presidencial apoiado pelo partido PODEMOS, que reivindica vitória nas eleições de 9 de Outubro, Maputo reforçou a segurança com forças especiais.
Veja Também Instabilidade política ameaça qualificação dos “mambas” ao CAN 2025Especialista em psicologia do terrorismo e contra-terrorismo, Ana Isabel Mota diz que os terroristas podem estar a aproveitar-se dessa dispersão para ocupar novas posições, realizar mais ataques e expandir a sua área de actuação.
Mota, que é coordenadora de Prevenção e Combate ao Extremismo Violento no Instituto de Psicologia da Paz de Moçambique, diz que está “bastante preocupada” com a forma “como estamos aqui a possibilitar uma janela de oportunidade aos terroristas”.
Para ela, “qualquer atenção dispersada neste momento é algo extremamente perigoso para Cabo Delgado e para Moçambique, no geral.”
Ana Isabel Mota receia que os ataques sejam mais intensos em distritos costeiros de Cabo Delgado, como Mocimboa da Praia, que chegou a estar ocupado por grupos terroristas durante largo tempo.
Veja Também Cabo Delgado: Explosão de bomba artesanal faz dois mortos em Mocimboa da Praia“Estas minas, estas explosões, cada vez mais frequentes, em Cabo Delgado, fazem parte daquilo que nós acreditamos ser a estratégia deles para fechar o território, que consideram ser do auto-proclamado Estado Islâmico de Moçambique,” diz Mota. “Eles estão a adoptar há uma ano a nova estratégia. Esta nova liderança veio para pôr ordem na casa, por assim dizer. E isso passa muito por consolidar posições,” acrescenta.
Enclave
O mesmo receio tem o sociólogo João Feijó, do Observatório do Meio Rural, que tem publicado muitos artigos sobre o conflito em Cabo Delgado.
Feijó vaticina que “isso vai significar um recrudescer dos ataques e vai significar uma intensificação daquele processo que já estava em curso de ‘ruandização’ da defesa em Cabo Delgado”.
Veja Também Expansão de negócios do Ruanda em Moçambique é uma "questão de soberania"Com os ruandeses a assegurar a estabilidade militar, diz Feijó, o exército moçambicano vai “ter um papel mais secundário, porque vai estar depois mais preocupado em garantir a segurança das capitais provinciais e enfrentar esta instabilidade dos corredores de transporte e por aí fora”.
Veja Também Comandante da Polícia diz que multinacionais podem regressar a Cabo DelgadoNa sequência, acrescenta Feijó, “o que vai acontecer é que aquela região no norte vai-se tornar cada vez mais um enclave, cada vez mais uma zona administrada politicamente pelo governo de Moçambique, mas economicamente e securitariamente por interesses, por multinacionais e por um exército estrangeiro, e o governo de Moçambique terá um mero papel simbólico”.
O Bispo de Pemba, Dom António Juliasse Sandramo, está também muito preocupado. Afirma que os ataques, em Cabo Delgado, continuam, e que ainda há população deslocada e a sofrer, “e que o mundo também não se esqueça de oferecer ajudas de solidariedade para com esse povo que sofre já desde 2017 até agora”.
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