A Rede de Alerta Antecipado de Fome (FEWS, na sigla em inglês) diz que o aumento de 12 por cento e 15 por cento nos preços da gasolina e gasóleo, respectivamente, anunciado em Março pelo Governo moçambicano deverá fazer aumentar o custo de vida e desacelerar a recuperação económica, principalmente para as famílias urbanas pobres.
Economistas dizem que a falta, da parte do Governo, de uma perspectiva de lidar com a situação resultante da subida do preço dos combustíveis, sobretudo a ausência de um plano para a potenciação do sector produtivo, fará com que o impacto desta decisão seja maior na economia e nas famílias empobrecidas.
António Francisco diz que "isso já está a acontecer porque sinto que da parte do Governo, não há uma perspectiva de lidar com esta situação criada pela guerra da Ucrânia; nós ainda não saimos da pandemia e já estamos a prepararmo-nos para uma situação imprevisível com o impacto desta guerra".
Veja Também Governo moçambicano toma medidas para mitigar impactos da guerra no consumo, pelo menos a prazoAquele economista anota haver pessoas que "pensam que isto não tem nada conosco, mas eu penso que já estamos a ser afectados, produtos como cereais e combustíveis já estão afectados, e a posição do Governo é deixar andar como sempre fez em relação à nossa própria guerra, sabemos hoje mais sobre a guerra na Ucrânia do que a nossa".
Para Francisco, a atitude do Governo "é de tapar o buraco quando ele aparecer, como faz, geralmente, com as estradas e outras infraestruturas, porque neste momento, não se sabe o que é que realmente está a ser feito no sentido de acautelar as situações que possam vir a afectar as famílias e a recuperação económica".
Mais medidas são necessárias
António Francisco criticou ainda as medidas tomadas pelo Banco de Moçambique para evitar a inflação "porque acabam por colocar o aperto à população, procurando manter a estabilidade do próprio Governo e da actividade pública, mas não do sector privado".
Veja Também Custo de vida em Moçambique tende a agravar"Não se veem medidas que possam permitir que a actividade produtiva recupere depois da pandemia, as pessoas vão recuperar porque deixarão de ter as restrições que tiveram, mas isso depende da capacidade de cada família e do sector privado, porque da parte do Governo não parece que haja facilitação no sentido de estimular mais a actividade produtiva", aponta aquele economista, numa altura em que se prevê uma descida da produção agricola em Moçambique, relativamente a anos anteriores, por causa de tempestades e cheias, apesar do discurso oficial de que é preciso criar resiliências.
"Agora só se fala de criar resiliências, mas não nada nesse sentido", sublinha António Francisco que apela o Governo a não criarobstáculos à recuperação da actividade turística, de restauração e mesmo da actividade informal, que por causa da pandemia tiveram muitas restrições".
Por seu turno, o também economista João Mosca defende que o Governo deve adoptar medidas que possam produzir resultados consistentes porque as actuais não estão direccionadas para o sector produtivo.
Ele sinaliza que "há muita inércia neste país, e tudo segue na mesma, sem que a agricultura tenha medidas para o desenvolvimento da sua actividade e da sua escala de produção, principalmente a produção alimentar, 85 por cento da qual é produzida pelo sector familiar".
Aumentos de preços
O preço do pão poderá subir no país, devido ao aumento nos preços globais do trigo, e isso deverá reduzir o poder de compra das famílias, com todas as consequências daí resultantes.
Refira-se que o aumento nos preços já fez com que em algumas cidades moçambicanas os transportes colectivos parassem temporariamente as operações em protesto contra o aumento dos custos operacionais.
O sociólogo João Colaço diz que a forma como os aumentos são feitos pode ser uma indicação de que há uma ruptura do contrato social entre o Estado e a sociedade.
"É preciso que seja projectada uma estratégia de longo prazo para a gestão das oscilações dos preços dos combustíveis, "defende aquele académico.
Entretanto, o economista Roberto Ubisse considera que numa economia tão pequena como a de Moçambique é difícil antecipar muitas coisas, "mas seja como for, pode-se fazer qualquer coisa, dentro das suas limitações orçamentais".