Brasil: Dilma com balanço positivo, dizem analistas

Ex-ministro do Trabalho brasileiro Carlos Lupi

No Brasil, o governo da presidente Dilma Rousseff chega ao final de 2011 com um balanço positivo, apesar dos escândalos de corrupção e quedas de ministros.

No Brasil, o governo da presidente Dilma Rousseff chega ao final de 2011 com um balanço positivo, apesar dos escândalos de corrupção e quedas de ministros.

A opinião é do cientista político Oswaldo Dehon que aponta no entanto como aspectos negativos do seu governo a falta de discussão da reforma agrária e de outros temas sociais.

O analista político começa lembrando que Dilma Rousseff conseguiu, apesar dos muitos escândalos, apoio em diversas frentes. “Do ponto de vista da população o primeiro ano da presidente Dilma foi muito bom, pelos níveis de popularidade que se comparado com os governos FHC e Lula são até mais altos. Mas, não é apenas do ponto de vista de popularidade que um governo sobrevive. Ele também sobrevive da relação com o parlamento e com a sociedade organizada, no que diz respeito aos que são beneficiários das políticas públicas e daqueles que se articulam no intuito da formulação e avaliação das políticas públicas. Curiosamente, ela vem dando demonstração de força”, afirma.

Para o analista, a presidente superou as expectativas também no que diz respeito ao jogo político. “É preciso pensar nas instituições e no coletivo de pessoas, não apenas ministros, mas assessores mais próximos do Palácio do Planalto para que a gente possa entender da capacidade política da presidente em se desvencilhar das armadilhas que a política brasileira estabelece para qualquer presidente da república. É surpreendente a maneira pela qual ela tem buscado superar as contradições, as dificuldades. Houve uma organização do meio de campo do governo, do Palácio do Planalto e, nesse momento, a despeito de todas as contradições, a presidente está conseguindo fazer com que os partidos não deixem a base aliada. Mesmo com fortes críticas, eles têm se mantido fiéis.”

O analista político avalia também que a presidente Dilma conseguiu dar continuidade à agenda de Lula e dar sinais de que pode ir além. “A presidente tem sido identificada como alguém que tem tentado combater a corrupção, tem deixado que seus ministros se expliquem, especialmente no parlamento, e tem construído uma agenda de políticas públicas, que, se um lado representa continuidade, por outro, sinaliza para algumas áreas que não estavam tão claras assim no governo anterior.”

Mas, para especialistas em geral, o grande sucesso do governo Dilma foi na área económica. Oswaldo Dehon concorda que a presidente conseguiu resultados positivos, em um momento de tantos problemas económicos no mundo. “Ela conseguiu resolver o problema da inflação que no ano passado era gravíssimo. As pressões inflacionárias sobre esse natal não serão tão graves quanto às do natal de 2010. Ainda do ponto de vista da economia, ela conseguiu driblar aspectos externos, como a crise nos Estados Unidos e Europa. A presidente tem tentado superar essas dificuldades elevando as taxas de juros, tentando diminuir o crédito de certo lado e agora, neste fim de ano, fazendo com que haja mais consumidores na economia para que o natal seja com menos arrocho do que se esperava no meio do ano,” explica.

Para Deon, essa postura na economia pode significar, ainda, uma espécie de trajetória que visa corrigir algumas distorções do governo Lula, especialmente, o combate tímido da alta taxa de juros. “Tanto Dilma como Guido Mantega já sinalizaram mais claramente que devem vir a combater essa doença que temos no sistema económico brasileiro que são as taxas de juros tão elevadas. Com a diminuição das taxas, talvez, possamos voltar ao crescimento de 2010, que foi mais de 7%. Esse ano, há sinalização de crescimento muito aquém. Isso pode facilitar o acesso da classe média nesta área do consumo em que as famílias precisam tanto, para o conforto e bem-estar, mas também para o desenvolvimento do país. Então, nesse caso, pode ser que ela assuma uma identidade própria.”

Oswaldo Dehon afirma que, como todo governo, o da petista também foi marcado por muitos problemas: “a política de reforma agrária, a dificuldade no que diz respeito a poder colocar esse tópico na agenda com o intuito de modernizar o campo brasileiro. Há também dificuldade no que diz respeito ao relacionamento da União e as partes da federação, dos Estados. Há muitas disputas, no que diz respeito às questões do petróleo, problemas relacionados, por exemplo, com a divisão dos royalties da mineração.”

Mas, na opinião do especialista, colocar na balança pontos positivos e negativos do governo não adianta muito quando se trata de prever uma possível reeleição da presidente. Qualquer projeção sobre o futuro da presidente Dilma tem relação ainda com as eleições municipais de 2012. “O desenho das eleições de governador e de presidente estabelece um nexo com as eleições que teremos no ano que vem. Precisamos esperar para saber qual será a posição relativa dos partidos ao final do pleito de 2012 para que possamos avaliar as chances. Agora, do ponto de vista do PT e dos partidos da base aliada, a presidente Dilma tem certa vantagem pelo fato de estar bem avaliada pela população e também por contar conta com boa vontade das principais lideranças para continuar esse governo, caso ele termine bem,” prevê Dehon.