Companhias do sector da energia estão a comprar terras em Africa para a plantação de biocarburantes.
Enquanto os biocombustíveis têm sido promovidos como fonte limpa e alternativa dos combustíveis fósseis, várias organizações ambientalistas queixam-se que os biocarburantes estão a trazer mais problemas em vez de melhorias.
Gabe Joselow jornalista da VOA em Nairobi conta a história de um projecto em curso no Quénia…
Quando uma empresa italiana de energia propos comprar terras numa floresta do Quénia para a cultura da jatrofa destinada a produção de biocarburantes, a mesma prometeu criar postos de emprego, pagar e participar no desenvolvimento das comunidades das terras solicitadas.
Mas a organização ActionAid diz que quando o acordo tinha sido assinado as pessoas que iam ser afectadas pelo projecto pouco ou quase nada sabiam. David Barissa Ringa é presidente da equipa da ActionAid para as zonas costeiras do Quénia e diz que o projecto previa a concessão de 20 mil hectares de terra para a cultura da jatrofa e em resultado iria desalojar mais de 20 mil pessoas.
“As pessoas estavam realimente revoltadas com o que aconteceu, porque o que menos esperavam é abandonar as suas plantações, ter de deixar para trás as suas casas e destruir tudo e partir… e não lhes foram prometidas novas terras onde pudessem se instalar e refazer o seu habitat.”
O caso está agora a ser revisto pela Autoridade de Gestão Ambiental do Quénia, isso enquanto já tenha havido uma decisão de reduzir a escala do projecto para 2 mil hectares de terra como experiência piloto. Legalmente, tudo indica que nem a empresa italiana e nem as autoridades locais que assinaram o acordo tinham cometido algo de errado. Tudo foi feito de acordo com a constituição queniana.
Organizações dos Direitos Humanos mostram-se preocupadas e dizem que ainda que seja legal ou não, a corrida para os biocombustíveis tem tido um negativo impacto nas comunidades locais em África. David Ringa da ActionAid, questiona igualmente sobre os impactos no meio ambiente.
“A ideia completa porque razão as pessoas estão a oprtar pela produção de biocombustiveis e fontes de energia limpa é de que estamos a reduzir as emissões de carbono. Mas se cortamos as arvores e se destruirem as florestas e deslocar milhares de pessoas dos seus habitats, penso que isso não faz nenhum sentido.”
No inicio deste ano a organização ambiental Amigos da Terra publicou um relatório no qual dizia que empresas europeias de energia compraram mais de 5 milhões de hectares de terra por toda a Africa, totalizando uma área maior a superficie da Dinamarca, para a produção de biocarburantes.
O relatório indicava que previsão da União Europeia em consumir 10 por cento de biocombustíveis a partir de 2020 lançou uma verdadeira cobiça por terras agricolas africanas.
Enquanto as organizações ambientalistas têm feito campanhas durante anos contra os biocarburantes, o Fundo das Nações Unidas para Agricultura – FAO diz que esta indústria pode ainda trazer benefícios.
Olivier Du Bois é um alto funcionário do departamento dos recursos naturais da FAO.
“Nossa conclusão – a mensagem basica é de que os biocarburantes não são bons ou maus só por si, isso tudo depende da maneira como são cultivados e geridos.”
A FAO editou um caderno de conselhos a governos e investidores interessados na produção de biocarburantes de forma que sejam social e ambientalmente responsáveis.
Numa altura em que os méritos desta nova indústria deverão ser trazidos ao debate, a procura de biocarburantes não tem dado sinais de abrandamento. A Agencia de notícias Bloomberg indicou que o preço do etanol – combustivel produzido a base da cana-do-açucar ou de milho – tem atingido novos recordes com novas procuras no Brasil e na Europa. As companhias aéreas dos Estados Unidos à Austrália têm em curso esperimentações de aviões movidos a base de biocarburantes.