Kadhafi: 42 anos de reinado errático e controverso

Líder impresível e autoritário, Kadhafi tentou sem sucesso criar os Estados Unidos de África

De revolucionário à terrorista e mais tarde aliado do Ocidente, Muammar Kadhafi não soube se adaptar aos ventos da mudança

O Coronel Muammar Kadhafi ascendeu ao poder em 1969 quando através de um golpe de Estado depôs o então Rei Idris.

O anúncio hoje da sua morte marca o fim do reino de um dos mais controversos líderes africanos.

O Coronel Kadhafi ganhou a reputação de líder megalómano quando começou a usar trajes floridos e de peles de animais, e também do facto de ter recrutado apenas mulheres para a sua guarda pessoal.

Apelidado de “cão louco do Médio Oriente” pelo antigo presidente americano Ronald Reagan, Kadhafi foi um controverso líder que despertou muita atenção por causa dos seus arremessos políticos.

O líder líbio apoiou uma série de movimentos revolucionários no mundo, incluindo no vizinho Chade e no Iran. Foi também acusado de patrocinar grupos militantes islâmicos e ataques terroristas.

Em 1986, o então presidente americano Ronald Reagan ordenou ataques aéreos contra a Líbia porque o governo de Kadhafi estava alegadamente envolvido no ataque a bomba de uma discoteca alemã em que morreram dois militares americanos. A filha adoptiva de Kadhafi viria a morrer nesse ataque.

Dois anos mais tarde a Líbia foi acusada da explosão do avião da Pan Am sobrevoando a cidade de Lockerbie na Escócia tendo morto 270 pessoas. Kadhafi admitiu a responsabilidade pelo ataque em 2003 e concordou em pagar as famílias das vítimas mais de 2 mil milhões de dólares de compensação.

No mesmo ano, o líder líbio concordou em renunciar ao terrorismo e armas de destruição em massa, abrindo assim vias para o levantamento de sanções impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia, logo após o atentado a discoteca alemã. Foram então reatadas as relações diplomáticas e as Nações Unidas viriam igualmente a anular as sanções adoptadas em resultado do atentado de Lockerbie.

Contudo as boas acções de Muammar Kadhafi não presidiram as suas virtudes, quando em Fevereiro tiveram inicio os movimentos de contestações pro-democracia. Embora debaixo de uma forte pressão internacional exigindo-o para abandonar o poder, Kadhafi respondeu aos seus adversários com violência. O seu governo reprimiu os manifestantes, a comunidade internacional interveio com novas nações e no mês de Março a NATO deu inicio a uma intervenção aérea contra as forças do então governo e com o objectivo de proteger a população civil.

Nascido em 1942 de uma família de beduínos do deserto da líbia, Muammar Kadhafi graduou-se na universidade do seu país antes de tornar-se num oficial das forças armadas.

Menos de uma década depois de ter assumido o poder com a idade de 27 anos, Kadhafi instaurou um governo que chamou de “Jamahiriya” que em árabe quer dizer “Estado do povo”. Em teoria o sistema devia dirigir o país através de comités populares com Kadhafi assumindo o papel de “líder da irmandade e guia da revolução”. Mas, na realidade o seu governo eliminou todos os dissidentes e o próprio Kadhafi viria a ser alvo de várias tentativas de assassinatos.

Muammar Kadhafi foi também conhecido como defensor da ideologia da unificação árabe, conhecida como o Pan-Arabismo e também dirigiu os esforços do Pan-Africanismo que tinha por meta unir as Nações africanas.