Refugiados somalis no Quénia com fome e sem ajuda

  • Michael Onyego

"perderam tudo. Não têm nada"

Refugiados têm agora que esperar semanas antes de receberem cartões de racionamento

Com milhões de pessoas afectadas pela fome e instabilidade na Somália os campos de refugiados de Dadaab no Quénia são vistos por muitos somalis desesperados como um lugar de segurança. Mas os problemas estão a aumentar.

Cerca de 1.300 somalis entram no Quénia todos os dias em busca de salvação dos sofrimentos no seu país. A notícia sobre os campos de Dadaab espalhou-se rapidamente através do país levando milhares de pessoas a efectuarem a longa viagem, muitas vezes a pé, na esperança de uma vida melhor.

Muitos não sobrevivem à viagem que pode levar mais de um mês. Mas aqueles que sobrevivem encontram segurança em termos de alimentos, água e abrigo fornecidos por organizações humanitárias que operam os campos.

Para muitos contudo a salvação não chega a tempo. A chegada em grande escala de refugiados nos últimos meses fez diminuir os recursos das organizações de ajuda.

Quando os refugiados chegam a Dadaab recebem uma ração alimentar que deve durar até serem registados e depois receberem cartões de racionamento.

Mas com o grande numero de refugiados que agora chega aos campos o registo pode demorar muito tempos deixando as pessoas á sua própria conta enquanto aguardam por serem oficialmente considerados refugiados. O número de refugiados está a causar grandes problemas às organizações.


Rose Ogola porta-voz do Programa Alimentar Mundial em Dadaab disse que incialmente “quando começamos a dar alimentos nos centros de recepção entregávamos uma ração de 15 dias na esperança que as pessoas pudessem ser registadas nesses 15 dias e pudessem ser colocadas no manifesto geral”.

“Contudo devido ao grande influxo apercebemo-nos que isso não funciona. Portanto a 15 de Julho mudámos de estratégia e em vez de uma ração de 15 dias e estamos agora a dar uma ração de 21 dias," acrescentou.

Com refugiados a continuarem a chegar a Dadaab é provável que os 21 dias não sejam suficientes.


Alguns dos refugiados afirmam ter esperado 40 dias por cartões de racionamento sem qualquer ajuda nesse espaço de tempo.

Para além disso nos campos começam agora a surgir outro tipo de problemas.

Yusu Ali and Fatumah Muhamud vieram da Somália em 2008 e foram inicialmente enviados para o campo de Dagahaley. Poucos problemas tiveram até a sua filha de 15 anos ter sido violada sexualmente.


O Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados, ACNUR prendeu um homem por esse crime mas Ali e Muhamud foram depois ameaçados pela família do alegado violador e tiveram que mudar de campo.


Muitos refugiados deparam com tantos problemas que lamentam agora ter saído da Somália conforme disse Janet Ndoti Ndila da Care International.

“A perda de propriedade é a sua maior queixa,” disse ela acrescentando que é a perda de propriedade que os leva a dizer que não deviam ter vindo.

“ Perderam propriedade, perderam gado perderam tudo que tinham e não têm nada”, acrescentou.


Grupos de ajuda como a CARE, o Programa Alimentar Mundial e a ACNUR estão a tentar encontrar meios para ajudar a crescente população de refugiados em Dadaab. Cerca de metade dos cerca de dois mil milhões de dólares necessários já foram entregues.

Tudo indica que com o s recursos humanitários esticados ao máximo muitos refugiados terão no entanto que esperar para receberem a ajuda que esperam ao fim de centenas de quilómetros de viagem por zonas marcadas pela fome, seca e destruição.