Mali: Um sistema corrupto que servia uma elite

  • Nancy Palus
Será benéfico para a região prestar atenção aos problemas existentes antes do golpe

Corrupção profunda e favoritismo

Quando militares malianos se apoderaram do poder no dia 22 de Março, indicaram estar a depor um presidente que fracassara em controlar uma rebelião no norte.

Muitos malianos sustentam que a situação do sector militar era apenas um sintoma de um problema mais amplo: um sistema corrupto que servia uma elite, enquanto o resto da população era excluída política e economicamente.

Hoje em dia, enquanto os dirigentes regionais procuram o regresso ao regime constitucional, os observadores sustentam que será benéfico para o país e a região prestar atenção aos problemas existentes antes do golpe.

Mali tinha sido citado como um modelo para a democracia na África Ocidental, mas muitos habitantes e analistas consideram que aquela imagem era baseada num profundo desconhecimento da realidade no terreno.

Segundo eles, a corrupção profunda e o favoritismo – e a ausência de oposição política – significava que o maliano médio não tinha voz e pouca oportunidade para evoluir economicamente.

Issa Ndiaye, é professor de filosofia na Universidade de Bamako, na capital maliana.

No exterior, as pessoas bem-intencionadas acreditavam sinceramente na imagem de um governo maliano como uma democracia ideal. Não analisavam a situação no terreno para terem uma compreensão sólida. Com efeito existe uma variedade de jornais e de estações de rádio no Mali – coisas que davam a impressão de que o governo era democrático. Mas não existia debate político, não existia verdadeira democracia.

Desde a primeira eleição multipartidária em 1992, o Mali efectuou sufrágios nacionais em 1997, em 2002 e em 2007. A participação eleitoral foi entre os 30 e os 40 por cento para os sufrágios presidenciais, mais baixa para as eleições parlamentares.

O professor Ndiaye, e outros, sustentam que as eleições se tornaram num ritual.

Os analistas consideram que no seu fervor para condenar o golpe de Estado, as organizações regionais e internacionais estão relutantes em analisar as possíveis causas, por receio de parecerem validar um golpe militar.

Os malianos que pedem uma análise mais profunda para o que desencadeou o golpe, referem que os que se recusam a considerar as razões são pessoas que beneficiaram do “status quo”, e não estão interessadas na mudança.

Com as autoridades malianas e regionais preocupadas agora com a ocupação rebelde no norte e a transição do Mali para um governo civil eleito, alguns observadores indicam ser vital não ignorar as aspirações que foram levantadas, pelo golpe, em muitos malianos.