Continuam a aumentar os indícios de fome na província de Benguela. Crianças e adultos em cada vez maior número buscam alimentos no lixo e há agora relatos de mulheres e crianças estarem a recolher na estrada Benguela/Lobito, sobras do trigo que caiem de camiões.
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As autoridades admitem por outro lado que os armazéns estão desfalcados, sem meios para acudir as famílias vulneráveis.
Tal como em outros pontos do país, centenas de campos agrícolas estão a secar por falta de chuva, ficando famílias camponesas desprovidas dos produtos básicos.
A olhar para três municípios, o produtor Zoro Babel, a partir do Cubal, dá conta da destruição de culturas mesmo ao lado de rios.
“As culturas secaram, já não se aproveita a primeira época, está tudo comprometido, sobretudo o milho, a base”, disse avisando que “haverá muita fome”.
Para Babel “cabe ao Governo investir em moto-bombas para salvar alguma coisa”.
Conhecedor desta situação, o evangelista João Guerra, da Igreja Católica, traça um cenário desolador e acrescenta que a chegada de ajuda do Programa Alimentar Mundial é algo de negativo porque aumenta a dependência e “o sentimento de paternalismo”.
Guerra disse que a situação é agravada pelas restrições impostas à movimentação de pessoas de e para Luanda devido à pandemia do coronavírus.
“É verdade que já estamos habituados a estiagens mas esse ano é mais negro por causa da pouca mobilidade”, disse sublinhando que muitos jovens se deslocavam para Luanda “para fazer negócios” e assegurar a vida das suas famílias.
“Numa linguagem militar, diria que temos um futuro minado. Ouvíamos aí que vem o PAM, mas atenção que o PAM cria nos indivíduos um espírito de paternalismo”, acrescentou o evangelista.
Numa entrevista à Rádio Nacional de Angola, a directora do Gabinete da Acção Social, Família e Igualdade do Género em Benguela, Leonor Fundanga, admitiu que não há condições para dar resposta às famílias vulneráveis.
“Neste momento não temos programas de apoio a essas pessoas, estamos desfalcados, não recebemos nada do Ministério”, disse
"De momento, não há nada nos armazéns. Vamos ver com a aprovação do Orçamento Geral do Estado”, acrescentou.
A responsável respondia ao facto de dezenas de mulheres e crianças estarem a recolher na estrada Benguela/Lobito, indiferentes ao perigo, sobras do trigo que caiem de camiões oriundos da empresa portuária.
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