Ver mulheres a partir pedra e depois vê-las a vender as pedras à beira da estrada é algo chocante e revelador da pobreza extrema de certos sectores da população angolana.
Na verdade, para muitos o conceito de vender pedras poderá parecer algo impensável mas é isso que acontece em muitos locais de Angola.
A pedra é partida à mão e vendida para ser usada como brita na construção.
No Namibe, isso também acontece com as mulheres que fazem esse duro trabalho de quebrar as costas a ganhar um dólar e meio por dia nessa venda, algo que lhes garante a sobrevivência.
Se esse trabalho é duro, mais difícil se torna pelos esforços da administração em forçar as mulheres a abandonarem o que fazem enviando fiscais para as retirar do local.
Maioritariamente chefes de famílias, por contingência da vida, na classe dos 50 anos de idade, entregam-se a esta actividade dura, mas dizem que não têm outra alternativa.
As referidas minas de extracção de pedras e trituração manual para o ganha-pão das famílias existem nos arredores dos bairros circundantes à cidade do Namibe.
No bairro Bagdade, encontramos a mina Domingos Capeua, nome que tem a ver com uma escola que serve de referência.
Neste local trabalham mais de 200 mulheres.
O placard de proibição da exploração colocado pelos fiscais da Administração Municipal do Namibe incomoda as mulheres de picareta e pás nas mãos.
Narciso da Costa, administrador municipal Adjunto do Namibe justifica o trabalho dos fiscais.
“Somos nós mesmos que mandamos os fiscais correrem com as mulheres em sítios próprios", diz.
Em reacção, uma das mulheres diz: "O nosso objectivo é garantir a alimentação das nossas famílias sem pedir esmolas às autoridades governamentais”.
Uma das crianças, de nome Maria, pediu clemência às autoridades locais para não incomodarem as mulheres.
"O dinheiro dos meus estudos sai mesmo deste trabalho, estudo a quarta classe e se os nossos pais saírem daqui não teremos comida e nem dinheiro para sustentar a escola”, implorou a pequena Maria.
No universo destas mulheres batalhadoras, também encontramos um homem que justifica a sua presença.
No bairro Cinco de Abril também encontramos mulheres com picaretas a labutar, enquanto na "Somália" encontramos a tia Teresa Jamba de 60 anos de idade.
Ela cuida de uma órfã de pai e mãe e disse que gosta do trabalho de escavação e transformação de pedras em brita.
A cada dia ela vende cinco sacos ao preço de 200 kwanzas cada.
“Lamentar não resolve o problema”, disse.
“Vamos fazer mais como? Tenho 60 anos de idade, para poder conseguir comer tenho que pegar na marreta e partir pedras, não tenho filho que me possa ajudar”, afirmou Teresa Jamba que concluiu: “Tenho neto pequeno e quando ele sentir fome e não eu tiver para lhe dar de comer vai chorar e depois eu também vou chorar”.