Angola mente sobre números da SIDA, diz ex-trabalhador da ONUSIDA

  • António Capalandanda
Activista angolano confirma e diz que autoridades perseguem quem denuncia o facto
As autoridades angolanas estão a esconder os números reais da prevalência da SIDA em Angola, disse um antigo representante da ONUSIDA em Angola.


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Angola mente sobre HIV SIDA - 3:27



Ao mesmo tempo um activista angolano afirmou que as autoridades perseguem aqueles que discordam do número oficial e acusou-as de levarem uma campanha de prevenção e tratamento marcada pela inoperância.

Bilali Kamara ex-representante ONUSIDA em Angola acusou as autoridades angolanas de estarem a esconder os dados sobre o VH/ Sida no país por razões políticas.

Kamara que falava para um boletim informativo produzido pela organização não-governamental, SCARJOV em parceria com a Rede de Pessoas Vivendo com HIV/SIDA em Angola, disse que os 2% de prevalência apresentado pelo governo angolano é falso e representa apenas 5% da realidade da informação prestada.

Kamara que esteve durante dois anos neste país africano, pesquisou sobre as razões dos 2% da sero prevalência em Angola e conclui que a taxa é politizada, tendo comparado os resultados dos períodos compreendido entre 2001 a 2009 em que Angola já apresentava 2%.

Neste época segundo a fonte, o número de pessoas vivendo com VH/Sida, cresceu significativamente de 140 mil para 200 mil.

Já entre os anos 2009 a 2011 mais de 20 mil casos foram diagnosticados e muitos deles refletem apenas em mulheres grávidas.

Zito Pacheco, membro da Rede de Pessoa Vivendo Com VIH/ Sida, disse à Voz da América que em 2010 durante uma cerimónia do dia mundial da luta contra o Sida, realizada em Luanda, já havia alertado as autoridades angolanas sobre o crescimento da taxa de prevalência em Angola e consequentemente passou a sofrer perseguições e a ser conotado como membro da oposição.

“ Eles não admitiram que pessoas viessem à asta pública com discurso, dizendo que os números que apresentam em Angola, não são reais,” lembrou o activista acrescentando que “ depois não conseguimos fazer mais nada porque todas as portas nos foram fechadas e outras organizações da sociedade civil naquela altura não queriam embarcar para esse discurso para não terem problemas com o governo.”

O antigo representante da ONUSIDA, revelou também 70% dos seropositivos não beneficia do tratamento, alegando que a cobertura no país abrange apenas30 em cada 100 pacientes.

Defendeu a necessidade da revisão do sistema de aquisição e abastecimento de fármacos em Angola.

Disse ser triste ter constado durante os anos que esteve em Angola que, quando as mulheres grávidas se deslocam a uma unidade sanitária, lá não encontram os testes rápidos e os medicamentos também nunca estão disponíveis para os doentes.

Criticou o governo por estar a efectuar campanha de sensibilização para as pessoas fazerem os testes e buscarem remédios quando estes testes e remédios não existem nos hospitais.

Pacheco por seu turno acrescentou que onde existem testes rápidos as pessoas preferem não fazer teste por não terem acompanhamento.

“ Certas vezes as pessoas preferem não fazer o teste porque sabem se fazer não terão passos contínuos, não terão medicamentos, não terão médicos para lhe tomar conta. Elas preferem viver na ignorância até que morram,” disse.

Kamara considera que existência de saúde eficaz depende da introdução dum sistema de aquisição de medicamentos correcto.

Alega também ter abordado a questão com autoridades angolanas em diversas reuniões, mas o problema persiste e ao ponto de se tornar crónico.