Angola Fala Só - Domingos da Cruz: "Não há transição, há sucessão"

Domingos da Cruz, jornalista e professor universitário

Activista, professor e escritor diz que a oposição é amorfa e a sociedade civil está amordaçada em Angola.

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16 Dez 2016 AFS - Domingos da Cruz: "Não há transição; há sucessão"

O Presidente José Eduardo dos Santos e o MPLA no poder não devem ser levados a sério quando fazem promessas, disse o professor universitário e jornalista Domingos da Cruz nesta sexta-feira, 16.

Ao falar no programa “Angola Fala Só”, da VOA, o professor afirmou que o anuncio de que João Lourenço será o próximo cabeça-de-lista do MPLA nas eleições não deve ser encarado como uma transição em Angola.

“Não é uma transição, mas sim uma sucessão”, sublinhou Domingos da Cruz para quem a palavra transição “pressupõe alteração de uma cultura politica”.

“Eu não acredito que João Lourenço vá destruir os interesses do poder”, continuou aquele activista, que recordou que Lourenço tinha em tempos ameaçados de usar a força contra manifestantes e, segundo algumas informações, "ele próprio beneficiou de milhões de dólares devido às ligações com o poder".

O professor disse não estar surpreendido com o facto de ter levado muitos dias até haver uma confirmação oficial que João Lourenço tinha sido escolhido para suceder a Santos.

Para Cruz, este tipo de actuação “é típico dos regimes autoritários”, porque, continuou, "tudo gira em torno daquele que é o principio e o fim, e outras decisões não têm valor”.

“José Eduardo dos Santos é o principio e o fim da gestão de Angola”, acrescentou o activista fazendo notar que mesmo que haja uma sucessão a nível do Governo, José Eduardo dos Santos continuará na presidência do MPLA, assegurando assim um controlo sobre o futuro imediato

“O que é lei e dogma é a palavra do chefe”, acrescentou o professor que admitiu não estar certo que Lourenço irá efectivamente suceder a José Eduardo dos Santos caso o MPLA vença as próximas eleições.

“Eu prefiro esperar para ver”, sublinhou, Domingos da Cruz, lembrando que em Angola “é claro que nunca houve eleições limpas, justas e transparentes”, porque “são um instrumento para o regime se legitimar”.

Em resposta a um ouvinte que quis saber porque é que os partidos da oposição participam em eleições quando dizem antecipadamente que vão ser fraudulentas, aquele investigar afirmou que compete a esses partidos “explicar porque é que participam em eleições”.

Contudo, adiantou que na sua opinião “em Angola a oposição é um negocio” porque permite aos dirigentes desse partido “terem um certo conforto”.

Domingos da Cruz manifestou também o seu cepticismo quanto às perspectivas de mudanças positivas em Angola num futuro próximo.

A sociedade civil “está incapaz de agir” e “não tem capacidade de produzir mudanças”, enquanto “a oposição é amorfa”, resumiu Cruz, para quem "o futuro é dramático”.

Professor universitário, escritor e jornalista, Domingos da Cruz é autor da obra “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura: Filosofia Política da Libertação para Angola”, usada como prova pela acusação no processo que julgou e condenou Cruz e 16 outros activistas pelos crimes de rebelião, tentativa de golpe de Estado e associação de malfeitores em Março.

O grupo veio a ser posteriormete amnistiado.

Em Outubro, Domingos da Cruz lançou mais um livro, intitulado “Angola amordaçada: a imprensa ao serviço do autoritarismo”, com a chancela da editora Guerra e Paz .