A crise em Angola é mais institucional e social do que económica, disse um economista angolano que comentava o recente discurso do presidente José Eduardo dos Santos em que este reconheceu as enormes dificuldades económicas do país.
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Por outro lado o Secretário Executivo da CASA-CE em Luanda, Alexandre Dias dos Santos “Libertador” disse que o discurso do Chefe de Estado angolano é motivo de preocupação e representa a ausência de soluções económicas para o país.
O dirigente da CASA CE pôs em dúvida a aplicação do governo na diversificação da economia afirmando que “quem gere o país há 40 anos são as mesmas pessoas, então deveriam ter pensado na diversificação há 10-15 atrás”
José Eduardo dos Santos admitiu pela primeira vez que Angola, fortemente dependente das importações, vive uma crise económica e financeira complicada, revelando por outro lado que, desde Janeiro, o Estado não recebe receitas provenientes da Sonangol, a petrolífera angolana, que nos últimos anos foi o motor da economia do país.
Dos Santos falava quarta-feira 22 de Junho, por ocasião da abertura da reunião da Comissão Económica e da Economia Real do Conselho de Ministros, realizada no Luena, capital da província do Moxico.
Para Alexandre Dias dos Santos, um dos problemas ligados à diversificação da economia consiste na atribuição ou concessão de empréstimos, onde são priorizados os membros do partido MPLA em detrimento de outros com capidade de gestão.
“O capital económico fica com as mesmas pessoas. Às vezes as pessoas que têm esta respectiva cor partidária não têm as habilidades económicas para desenvolver o empresariado nacional. Nós, CASA-CE em Luanda, não acreditamos”, referiu.
O político da segunda maior força da oposição em Angola, pensa que a diversificação da economia deveria ser feita com anos de antecedência e não num período economicamente delicado como este em que se regista no país escassez de receitas financeiras.
Para o líder da CASA-CE em Luanda, a diversificação da produção angolana é “uma falácia”, pelo que não é possível agora, e cita como exemplo o projecto agrário Aldeia Nova, na província do Kwanza Sul.
“É um monstro adormecido. Foi um grande projecto. Passa pela Aldeia Nova para ver que tipo de projectos tem. As coisas andam a ser mal planificadas por este Governo liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos”, disse.
Para o economista e docente universitário Josué Chilundulu, o probema de Angola é mais “institucional e social do que económico”.
Na partida para uma estrutura mais pró-desenvolvimentista em Angola uma das questões que mais se debate, na visão do académico, é a transparência, não apenas na gestão do erário público, mas também nas diferentes tomadas de decisões.
A desvalorização da moeda nacional tem implicações nefastas para estrutura económica, pois que, “pessoas que tenderiam a investir agora, poderiam preterir o investimento”.
“Pessoas que tenderiam a disponibilizar as suas pequenas poupanças para que os intermediários financeiros alargassem a capacidade de investimentod as empresas, deixariam de aplicar”, disse
O economista adverte que se o BNA “não for capaz de criar um sistema de informação que eleve os níveis de confiança dos empresários, por si só isto pode ser um factor inibidor de investimento”.
A propósito do discurso proferido pelo Presidente da República a cerca da situação económica de Angola, Chilundulu referiu que o acesso à informação é fundamental para alargar as espectativas dos cidadãos em face da necessidade de encontar uma saída para crise.
O professor universitário avança por outro lado que existe necessidade do Executivo ser mais interactivo a fim de que sociedade seja esclarecida sobre a real situação do país.
O economista alerta para o facto de Angola enfrentar uma situação económica que requer tomada de decisões políticas urgentes, uma vez que se vive no país os efeitos negativos da crise que já afecta a capacidade de aquisição até de seringas para os hospitais.
“Quer o governo, quer a sociedade angolana estão a ter uma oportunidade para parar, perceber e ter atitude para uma mudança que se pretende de sucesso”, disse o economista, para quem enquanto se atrasam as respostas ao problema “as famílias continuam carentes, com pouca capacidade para obtenção do mínimo”.
“As famílias continuam a ter dificuldades de ter assistênia na saúde e a todo um processo já construído”, disse
Josué Chilundulo reforça que quanto mais atraso se regista na tomada de decisões para alavancar a economia angolana, mais degradada fica a conquista alcançada nos últimos 12 anos.
O poder de aquisção dos cidadãos perde-se a cada dia que passa e a escassez de divisas no mercado cambial angolano é um dos motivos, disse Alexandre Dias dos Santos “Libertador”, que num “cálculo rápido” refere que a maior parte da população está a alimentar-se de pão, um produto que também registou uma subida de mais 300 porcento, mas que ainda assim é mais acessível para população.
“O Presidente foi humilde em reconhecer que estamos em crise, mas a crise já afecta os angolanos há bastante tempo, apenas se agudizou”, disse.
“As padarias estão cheias. As 19 horas quantas pessoas ficam nas padarias para comprar pão?É um produto que também está caro, mas ainda é mais barato em relação ao litro de óleo, ao tomate, ao quilo de açúcar, ao vinagre...”, disse.
Alexandre Dias dos Santos entende que este seja um momento delicado e que o Fundo Soberano de Angola, liderado por José Filomeno dos Santos, filho do Presidente angolano, devia intervir para ajudar a suprir as necessidades.
O político defende por outro lado mais investimentos na produção agrícola, embora não acredita numa aposta séria do Governo para diversificação da economia.
Para ele “o dinheiro está a ser mal utilizado”.
“De Luanda até ao Sumbe tudo está ocupado, mas não se produz nada, então o dinheiro está a ser mal usado. Há fazendas que servem apenas para aterragem de alguns aviões privados e não há produção”, disse o político da CASA-CE para quem “é preciso apostar na verdadeira democratização do país”.
“Tinha que haver mais investimentos para podermos desenvolver o país, mas não acreditamos”, acrescentou.
Em tempo de crise é importante que se formatem as instituições sérias sob pena do país ter diculdades de garantir que o investidor estrangeiro venha à Angola aplicar o seu capital e o investidor nacional vai continuar a enviar o seu dineheiro para outras paragens, defendeu Josué Chilundulo.
“Nós precisamos sim restruturar as nossas instituições, dar poder, deixar de olharmos para o nosso país de forma mesquinha e garantir que de forma transversal e paulatina se vai restablecendo os níveis de confiança”, o que na visão do economista passa primeiro pela superestrutura do Governo.