Oito anos depois da prisão dos integrantes do grupo de activistas angolanos que passou a ser conhecido por 15 + 2, acusados de tentar um golpe de Estado contra o então Presidente José Eduardo dos Santos, o ímpeto daquela luta por liberdade e democracia do grupo praticamente desapareceu.
Alguns deles começaram a acreditar em ideias que não comungavam na altura, contudo, quase todos dizem que, de lá para cá, a situação social e económica do povo agravou-se de tal modo que há quem tenha saudades do antigo estadista que eles combatiam.
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Alguns foram para o exílio, enquanto outros mantêm-se fiéis à luta, mas noutras posições.
Dos que ficaram conhecidos também como os 17, agora restam apenas 16, com a morte de Albano Bingo Bingo.
Veja Também Activistas angolanos denunciam sequelas dos tempos passados na prisãoLaurinda Gouveia, que com Rosa Conde eram as únicas mulheres do grupo, considera que “a situação da população piorou tanto desde que João Lourenço tomou o poder que dá saudades do ex-Presidente José Eduardo dos Santos”.
“A situação está tão mal que este Presidente actual não ouve ninguém, João Lourenço revolta-nos", acrescenta Gouveia.
Veja Também Activistas angolanos presos há quase uma semana sem explicaçãoMbanza Hamza, na altura muito jovem, considera que o cenário está muito mais violento.
"Hoje as coisas agravaram-se tanto que matam as pessoas na rua por se manifestarem e fica mesmo assim, bem a dita comunidade internacional...estamos por nós mesmos, até as reivindicações estão a levar à chacina, o que nos falta mais? Temos que entrar no espaço político, fazer a luta ali e arrancar-lhes de lá", defende Hamza, que está à frente de um projecto de partido político para tentar ser Presidente de Angola.
Veja Também Angola: "15 + 2", entre legado e lembrançasValeu ou não a pena
Quanto ao ocorrido em 2015, Mbanza Hamza afirma que “valeu a pena, não vale é ficar calado e ficar a olhar, nós acreditamos e fomos às ruas, usamos os meios ao nosso dispor e hoje quando olho para trás digo que sim valeu a pena".
Mas há quem não pensa assim, como Nicola Radical, outro integrante do grupo.
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"Acho que não valeu a pena, olhando para o retrovisor agora em 2023 tudo ficou caótico quase que recuamos mil anos luz em liberdade, democracia, voltamos à estaca zero", diz Radical, para quem a falha é, também, em parte, dos próprios activistas.
"Nós, enquanto activistas, não tivemos um projecto de longo prazo, cada um tinha o seu interesse particular, ao alcançar este objectivo não mais queriam saber do que se passa hoje", reconhece Radical.
Quem também acredita que hoje os círculos da sociedade angolana de tanto padecerem com a actual governação têm uma pontinha de saudade, é Arante Kivuvu.
"O nível de vida dos cidadãos caiu tanto que há pessoas a comer do lixo, coisa que nunca aconteceu, ainda assim foi anunciada a doação de 700 mil kwanzas por mês, para os juízes fazerem compras para as suas casas, e o povo come no lixo, não se compreende, o Presidente João Lourenço tem de reflectir, isto até faz com que se tenha saudades de José Eduardo dos Santos", resume Kivuvu.
Perseguição continua
Osvaldo Caholo, o único militar do grupo, diz que a perseguição que começou em 2015 continua até hoje, pelo menos contra a pessoa dele.
"Os meus irmãos hoje não conseguem falar comigo ao telefone, não conseguem me visitar em casa, não podem ser vistos comigo", conta Caholo, que aponta um grande recuo nos últimos oito anos.
"Muitos activistas do grupo dos 15 mais duas hoje acreditam em coisas como eleições em Angola, coisa que lá atrás nunca acreditaram, não sei se por patetice, por hipocrisia ou fome, numa autêntica contradição", critica.
Por seu lado, Manuel Chivonde Nito Alves, o mais novo do grupo, diz temer que Angola se transforme numa Líbia de Kadafi.
"Depois da saída de José Eduardo dos Santos, João Lourenço perdeu o foco, não consegue gerir questões de liberdade e democracia para não cairmos no erro que foi a Venezuela de Maduro, ou do tipo da Líbia ou do Egito de Mubarak", conclui.
Recorde-se que a 28 de Março de 2016, o Tribunal Provincial de Luanda condenou os activistas a vários anos de prisão.
Domingos da Cruz recebeu a pena maior, oito anos, Luaty Beirão, cinco, e os demais dois anos de privação de liberdade.
Pouco mais de um ano depois, eles foram colocados em liberdade ao abrigo da uma amnistia geral concedida pelo Presidente Santos.