África do Sul: Aumenta consumo de drogas perigosas

África do Sul: Aumenta consumo de drogas perigosas

O problema é exacerbado pela pobreza que força viciados a recorrer às drogas baratas, e mais perigosas

Apesar da África do Sul ter uma economia bastante grande, muitas pessoas ainda enfrentam problemas sociais semelhantes aos encontrados em outros países africanos de pequenas economias ou dependentes.

Um desses problemas é o uso e abuso de drogas, especialmente entre a juventude.

O uso de drogas em cidades como Joanesburgo e Cidade do Cabo não é muito diferente do abuso em lugares como Dar-es-Salaam ou Zanzibar, onde os jovens injectam-se com substâncias entorpecentes ou narcóticas.

O problema é exacerbado pela pobreza que força alguns viciados a recorrer às drogas baratas, os ainda aos mais perigosos “cocktails” quando não podem obter o produto habitual.

Na Tanzânia, os tóxico-dependentes misturam heroína com pedaços de prata que são encontradas nas antigas notas de 1000 xelins para fazerem uma dose e na África do Sul os viciados deitam mão de tudo, até medicamentos anti-retrovirais.

Um “cocktail” popular chamado “whoogonga” começou a espalhar-se pela África do Sul, a partir da província do Kwazulu-Natal, principalmente em áreas rurais.

"Whoogonga" é um “cocktail” onde se misturam anti-retrovirais, marijuana e heroína barata.

A situação tornou-se violenta, porque já houve casos de roubos de anti-retrovirais de clínicas. Há casos também em que os consumidores compram os anti-retrovirais aos doentes de HIV ou então assaltam os doentes com HIV que estão a sair das clínicas para poderem fazer “whoogonga”.

Kwanele Nkosi de 22 anos que vive na Cidade do Cabo, admite que ele usa “whoogonga”. Segundo Kwanele, começou a usar esta droga depois de enfrentar problemas pessoais e familiares. Um amigo insistiu com ele, para experimentar a droga e desde esse dia nunca mais conseguiu parar. Contudo, diz que a euforia que lhe dá quando consome “whoogonga” não dura muito tempo, forçando-o a usar entre 2-3 vezes por dia dependendo da disponibilidade.

Kwanele e os seus amigos às vezes gastam 200 randes – qualquer coisa como $26 por dia - em “whoogonga”. Ele ganha o dinheiro fazendo trabalhos diferentes, incluindo ajudando turistas na Cidade do Cabo.·

Até 2008, o plano de anti-retrovirais do governo sul-africano era limitado por ser considerado muito caro.

O ex-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, acreditava que as pessoas não morriam de HIV, mas de outras doenças que possuem vírus, e assim insistiu em tratar de doenças relacionadas como a tuberculose.

Mas a actual administração do presidente Jacob Zuma, começou a implantar o programa de forma mais ampla, embora nem sempre os medicamentos caiam nas mãos certas.

O Dr. Wilbert Matsha, director de uma clínica em Joanesburgo, diz que o aumento do uso de “whoogonga “ é alarmante, porque limita os recursos do tratamento com anti-retrovirais na África do Sul, onde muitas pessoas precisam dele.

Segundo os viciados, “whoogonga” é barato comparando a outros narcóticos no mercado.

Por exemplo, um comprimido custa três dólares. Outra droga famosa chama-se “nyaope” e é usada por muitos jovens pobres, dos bairros de lata na África do Sul.

As pessoas locais chamam a esta droga tubarão. Às vezes misturam-na com veneno de ratos para ficar ainda mais poderosa. É uma droga muito acessível que se está a espalhar por todo o país e que está a afectar jovens negros pobres.

Viciados em “nyaope” dizem que pequenas doses causam excitação e uma sensação de bem-estar, enquanto doses grandes causam sonolência, sensação de segurança e descontracção.

À parte do “whoogonga” e “nyaope”, há “tik”, que é outra droga que se está a tornar popular na África do Sul.

O interessante é que o “tik” é comercializado como um medicamento para perder peso, e para esse fim é usado.

Originário de Pretoria, dizem ser uma neurotoxina feita em laboratórios ilegais, usando ingredientes comprados em supermercados.

Medicamentos para gripes e constipações e outros ingredientes que muitas vezes incluem substancias tóxicas como anti-congelantes são cozinhados em laboratórios de metanfetaminas.

De acordo com o Dr. Matsha, o “tik” toma conta do corpo e controla a mente. Os seus utilizadores emagrecem, ficam com os olhos encovados, com feridas na pele, e inflamações dentro e à volta da boca.

A proliferação de drogas locais é causada pelos altíssimos preços da cocaína e heroína na África do Sul.

O negócio das drogas é dominado, maioritariamente, por nigerianos e tanzanianos, que dizem arranjar facilmente a droga proveniente de Zanzibar.

As pessoas mais afectadas são aquelas que vivem em bairros de lata, na sua maioria negros e alguns estrangeiros de países africanos que vivem em zonas baratas no centro da cidade de Joanesburgo