Fala África VOA recebeu a escritora angolana Lunga Noélia Izata, criadora da trilogia "Read My Book". A obra, composta pelos livros "Read My Book", "Bury That Book" e "No Books Allowed", mergulha em temas complexos como segregação racial, opressão religiosa, tensões étnicas, moralidade e amor. Cada volume explora diferentes perspetivas de personagens marcantes, trazendo reflexões profundas sobre a condição humana e as realidades do continente africano.
"Read My Book": A introdução ao mundo de Rodésia
O primeiro volume da trilogia estabelece o cenário em Rodésia, uma terra fictícia governada por líderes religiosos e políticos. A história revela as desigualdades raciais e a opressão sofrida pelo povo. "É um livro que fala sobre racismo, opressão e segregação, onde negros e brancos vivem separados", explica Lunga, destacando como a narrativa reflete problemas sistémicos vivenciados em muitas sociedades.
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"Bury That Book": Vozes de uma nova geração
O segundo livro apresenta a perspetiva de um filho de pais de etnias diferentes, enfrentando questões de identidade e saúde. "O protagonista tem vitiligo e narra como percebe os dois lados — o povo negro e o branco — e as falhas de ambos", detalha Lunga. O livro também aborda questões como a malária e explora o impacto da moralidade coletiva, reforçando que o caráter transcende as questões raciais.
"No Books Allowed": Uma terra de contradições
No último volume, os personagens buscam refúgio em Elíquia, uma terra onde não há racismo, mas outros desafios prevalecem. "Eles enfrentam fome, mudanças climáticas e uma sociedade que proíbe a leitura", relata a autora. A ausência de livros e o analfabetismo imposto pelo governo mostram como o controle intelectual pode ser uma forma de dominação.
A conexão entre as histórias
A trilogia é conectada por personagens que evoluem ao longo dos livros. "No primeiro, Jodi é uma adolescente; no segundo, é mãe e, no terceiro, enfrenta novos desafios em outra terra. É uma jornada de crescimento", explica Lunga, mostrando como as narrativas se entrelaçam.
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Escrevendo em inglês: um passo para o mundo
A escolha do inglês como idioma da trilogia foi intencional. "Escrever em inglês me deu liberdade. Eu sentia menos julgamento e mais privacidade. Além disso, queria alcançar outras comunidades e criar pontes culturais", compartilha Lunga. A paixão pela língua nasceu de sua vivência na Inglaterra, onde começou a escrever em um blog para aprimorar suas habilidades.
Além do romance: uma missão literária
Para Lunga, sua obra vai além da ficção. "Queria desafiar-me como escritora, abordando temas que os jovens precisam ler mais: malária, anemia falciforme, mudanças climáticas e até crimes contra mulheres", explica. A trilogia é um convite à reflexão sobre questões universais, vistas por meio da lente africana.
A voz de Lunga Noélia Izata ecoa uma mensagem poderosa: a literatura pode ser um espelho da sociedade e, ao mesmo tempo, uma janela para um futuro de compreensão e empatia. Como Jodi, sua protagonista, ela convida os leitores a confrontarem realidades complexas e explorarem novas possibilidades.