Links de Acesso

Moçambique: Viagens do Presidente Nyusi debaixo de fogo


“Show Off politico”, diz um dos vários críticos que descrevem as viagens como gastos desnecessários num país empobrecido.

As recentes viagens do Presidente moçambicano a Manica estão a ser criticadas por analistas locais como sendo um gasto desnecessário de fundos numa altura em que o Governo tem dificuldades em pagar salários e o país passa por dificuldades económicas.

Viagens de Nyusi debaixo de fogo - 3:15
please wait

No media source currently available

0:00 0:03:15 0:00

Na quinta-feira, 20, Filipe Nyusi abordou o uso da tecnologia nas ações de formação profissional e na mecanização agrícola e entregou mais de 14.500 certificados de cursos profissionalizantes em Vanduzi, na província de Manica, na segunda viagem de Estado à província em 48 dias.

“Moçambique está a reformar a educação profissional de forma a reorienta-lo para a obtenção de melhores resultados”, disse, o Presidente reiterando que “apostamos no ensino profissional por ser o tipo de ensino que combina o conhecimento teórico com a experiência prática do saber fazer”, disse Filipe Nyusi no evento em Vanduzi.

O chefe de Estado moçambicano já tinha visitado Manica a 2 de Junho e inaugurado um sistema de abastecimento de água em Nhampassa (Barué) e o Tribunal distrital de Macate, em viagens que envolveram uma frota de dezenas de viaturas da sua comitiva e quatro helicópteros.

Analistas e políticos moçambicanos consideram despesistas as viagens presidenciais de Filipe Nyusi a Manica, além de serem incoerentes com o discurso de exiguidade orçamental do país, agora rotulado como incumpridor no pagamento da dívida interna e externa.

O antigo deputado do MDM Sande Carmona entende que as viagens presidenciais de Filipe Nyusi sugerem que o estadista não conhece a real situação do país.

“Ele inventa um não-trabalho para conseguir deslocar-se de Maputo a fim de gastar o pouco que o povo moçambicano tem contribuído para o desenvolvimento do próprio país”, afirma Carmona, salientando que a cultura do despesismo se espalhou no governo.

“Não é compreensível que o Ministério da Saúde, o governo no geral, que não consegue pagar o salário, planifique uma reuniãozinha de quadros do ministério que vai gastar 15 milhões de meticais”, lamentou o Carmona, lembrando que as viagens presidenciais acarretam altos custos.

Para o analista político Samuel Simango, a classe política continua a fazer uso do tesouro público para despesas não essenciais e não produtivas, tornando esfarrapada a macroeconomia do país.

“O Governo está com dificuldades de pagar os salários devidos aos funcionários e como se não bastasse a classe política continua a esbanjar como se o país tivesse dinheiro de sobra”, diz Samuel Simango, realçando que o país vive uma insatisfação generalizada devido a precários serviços públicos prestado pelo governo.

O também docente universitário de Ciências Políticas e Relações Internacionais na Universidade Católica de Moçambique (UCM) entende que os objetivos das visitas presidenciais a Manica “são minimalistas” e “contraproducentes ao espírito de descentralização”, pois as inaugurações e outras atividades podiam ser efetuadas pelas estruturas do nível provincial, distrital e local.

“Há dias o país lançou um apelo aos parceiros externos para o programa um distrito, um hospital, lembra Simango para quem “este programa é lançado para a comunidade internacional, exatamente porque o nosso país não tem fundos para o efeito, mas meia volta temos visitas presidências pomposas, que - sem fazer as contas - só pela composição das comitivas e pela qualidade dos membros, podemos ver que essas visitas são de facto onerosas”.

Simango descreve as visitas como “um show-off político pré-eleitoral” num país “empobrecido”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o serviço da dívida pública custe este ano 2.268 milhões de dólares a Moçambique, praticamente o dobro face a 2022, equivalente a 11.8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

Fórum

XS
SM
MD
LG