As recentes viagens do Presidente moçambicano a Manica estão a ser criticadas por analistas locais como sendo um gasto desnecessário de fundos numa altura em que o Governo tem dificuldades em pagar salários e o país passa por dificuldades económicas.
Na quinta-feira, 20, Filipe Nyusi abordou o uso da tecnologia nas ações de formação profissional e na mecanização agrícola e entregou mais de 14.500 certificados de cursos profissionalizantes em Vanduzi, na província de Manica, na segunda viagem de Estado à província em 48 dias.
“Moçambique está a reformar a educação profissional de forma a reorienta-lo para a obtenção de melhores resultados”, disse, o Presidente reiterando que “apostamos no ensino profissional por ser o tipo de ensino que combina o conhecimento teórico com a experiência prática do saber fazer”, disse Filipe Nyusi no evento em Vanduzi.
O chefe de Estado moçambicano já tinha visitado Manica a 2 de Junho e inaugurado um sistema de abastecimento de água em Nhampassa (Barué) e o Tribunal distrital de Macate, em viagens que envolveram uma frota de dezenas de viaturas da sua comitiva e quatro helicópteros.
Analistas e políticos moçambicanos consideram despesistas as viagens presidenciais de Filipe Nyusi a Manica, além de serem incoerentes com o discurso de exiguidade orçamental do país, agora rotulado como incumpridor no pagamento da dívida interna e externa.
O antigo deputado do MDM Sande Carmona entende que as viagens presidenciais de Filipe Nyusi sugerem que o estadista não conhece a real situação do país.
“Ele inventa um não-trabalho para conseguir deslocar-se de Maputo a fim de gastar o pouco que o povo moçambicano tem contribuído para o desenvolvimento do próprio país”, afirma Carmona, salientando que a cultura do despesismo se espalhou no governo.
“Não é compreensível que o Ministério da Saúde, o governo no geral, que não consegue pagar o salário, planifique uma reuniãozinha de quadros do ministério que vai gastar 15 milhões de meticais”, lamentou o Carmona, lembrando que as viagens presidenciais acarretam altos custos.
Para o analista político Samuel Simango, a classe política continua a fazer uso do tesouro público para despesas não essenciais e não produtivas, tornando esfarrapada a macroeconomia do país.
“O Governo está com dificuldades de pagar os salários devidos aos funcionários e como se não bastasse a classe política continua a esbanjar como se o país tivesse dinheiro de sobra”, diz Samuel Simango, realçando que o país vive uma insatisfação generalizada devido a precários serviços públicos prestado pelo governo.
O também docente universitário de Ciências Políticas e Relações Internacionais na Universidade Católica de Moçambique (UCM) entende que os objetivos das visitas presidenciais a Manica “são minimalistas” e “contraproducentes ao espírito de descentralização”, pois as inaugurações e outras atividades podiam ser efetuadas pelas estruturas do nível provincial, distrital e local.
“Há dias o país lançou um apelo aos parceiros externos para o programa um distrito, um hospital, lembra Simango para quem “este programa é lançado para a comunidade internacional, exatamente porque o nosso país não tem fundos para o efeito, mas meia volta temos visitas presidências pomposas, que - sem fazer as contas - só pela composição das comitivas e pela qualidade dos membros, podemos ver que essas visitas são de facto onerosas”.
Simango descreve as visitas como “um show-off político pré-eleitoral” num país “empobrecido”.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o serviço da dívida pública custe este ano 2.268 milhões de dólares a Moçambique, praticamente o dobro face a 2022, equivalente a 11.8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
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