Há décadas que cerca de metade da população são-tomense não tem aceso a água potável, segundo dados da Empresa Nacional de Água e Eletricidade (EMAE), que alega a falta de investimento, enquanto a população fala em ausência de vontade política.
De norte ao sul do arquipélago com cerca de 1000 quilómetros quadrados e 237,096 habitantes, segundo projeção das Nações Unidas, há milhares de pessoas a consumirem água do rio, sem qualquer tratamento por incapacidade de fornecimento da EMAE.
Entre os seis distritos de São Tomé, Lembá, Cauê e Cantagalo são os que têm mais pessoas sem água potável. A EMAE tem 16 sistemas de tratamento e abastecimento de água, mas a maioria data do período colonial.
“A captação de Canga é um canal que foi construído na época colonial para irrigação e é o mesmo canal que depois serviu como conduta de adoção e ele não tem capacidade para levar muita quantidade de água”, explica Valdemiro do Rosário, responsável do setor de distribuição de água, propondo a substituição da mesma para que possa transportar mais água.
E como se não bastasse, de acordo com os responsáveis da EMAE, 40 por cento da água potável que vai para a rede distribuição não chega aos consumidores devido ao envelhecimento das condutas, sobretudo na cidade capital.
Perante a crise, nas ultimas décadas emergiram no país os chamados comerciantes de água que vendem o precioso liquido ao preço 25 dólares o metro cubico, cerca de de 150 vezes superior ao valor praticado pela EMAE.
Foco
“Esses ditos comerciantes de água, quando há deficiência em termos de abastecimento, eles vão buscar água do rio, sem qualquer tratamento e vendem à população”, diz Timóteo da Costa, chefe do departamento de água da EMAE.
Adilio Abreu vive nos arredores da cidade de São Tomé e lamenta a incapacidade dos sucessivos governos para satisfazer “um direito básico da população”.
“Se os políticos-governantes tivessem como foco e objetivo a resolução dos problemas básicos da população, certamente que a água estaria incluída e nós já teríamos esse problema resolvido”, diz Abreu.
Quanto às empresas que vendem água imprópria, Abreu questiona: onde estão as autoridades, os tribunais? O que estamos a assistir é um crime.”
Liberato Moniz, analista político, também considera que há pouco interesse político em resolver um problema, que “todos sabem que é a origem de um grave problema de saúde pública no país”.
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