O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) diz estar aberto ao diálogo com o Presidente da República, juntamente com líderes de partidos com assento parlamentar para encontrar saídas à crise política do país.
Em conferência de imprensa nesta terça-feira, 1, em Bissau, Domingos Simões Pereira disse “estranhar” a reabertura do chamado “Processo resgate” dos bancos.
O também líder da coligação PAI – Terra Ranka, que ganhou as eleições legislativas de 4 de junho de 2023, abordou o pagamento de seis mil milhões de francos cfa (cerca de 10 milhões de dólares) que, segundo ele, esteve na base da dissolução da Assembleia Nacional Popular em dezembro do ano passado pelo Presidente da República.
Simões Pereira disse que dos seis mil milhões, "três mil milhões foram para um conselheiro do Presidente da República, que continua a ser conselheiro neste momento", sem revelar o nome, e que outros "1,2 mil milhões form para um empresário".
Ele foi mais longe e afirmou que foi "desse montante que o empresário fez o pagamento dos valores que o Presidente da República anunciou em como tinha dado 400 milhões a um partido, 300 milhões a outro partido".
"Ou seja, dos seis biliões de que se fala, 4,2 biliões foram para muito próximo do Presidente da República, por isso é de facto estranho", sublinhou o presidentte do PAIGC.
"Sem culpas"
Quanto ao “Processo resgate”, Simões Pereira escusou-se de qualquer ato de corrupção e lembrou que ele assinou a autorização para o resgate dos bancos, que lhe foi pedido anteriormente pelo próprio Presidente, a 1 de julho de 2015, mas que foi exonerado a 12 de agosto.
Com o processo consumado em novembro, ele pergunta "o que é que eu tenho a ver com o processo?".
Diálogo
No meio da crise atual, Domingos Simões Pereira revelou estar disponível para dialogar com Umaro Sissoco Embaló, que, segundo ele, está mal acompanhado.
"Eu nunca coloco pré-condições para contribuir para tirar o meu país de uma situação de crise", disse o antigo primeiro-ministro, que alertou para o facto de o país entrar em vacatura caso o Sissoco Embaló não marcar eleições antes do fim do mandato dele.
"A partir de 27 de fevereiro corremos o risco de ter uma vacatura e uma vacatura é sempre motivo de potencial conflito", alertou Simões Pereira, sublinhando que "quem o aconselha a não marcar eleições presidenciais é tudo menos seu amigo".
Insegurança
"Eu tenho certeza que o Presidente quando está sozinho, a sua consciência é outra, quando é assim, ele sabe o que deve fazer, mas depois está na companhia de gente que está mais preocupada com o seu bem-estar e incitam-no a violar, a ir contra as leis, a não respeitar a Constituição", afirmou o presidente do PAIGC.
Apesar de dizer que nunca a Procuradoria Geral da República vai encontrar qualquer ato de corrupção por parte dele, Simões Pereira admitiu que se sente "mais ameaçado" e questionou "qual é o guineense hoje que vai para casa e dorme tranquilo?”.
"Muito poucos", concluiu.
A Voz da América contactou a diretora do Departamento de Comunicação e um conselheiro da Presidência da República, mas não houve qualquer resposta.
O caso
Na sexta-feira, 27, o PGR anunciou ter remetido para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) “cópias de provas” de alegados crimes de corrupção cometidos pelo atual presidente do Parlamento, Domingos Simões Pereira.
Bacari Biai disse em conferência de imprensa o empréstimo feito a dois bancos comerciais de Bissau foi contraído para saldar a dívida que o Estado teria para com 99 empresas e pessoas individuais, “uma operação fraudulenta”.
Biai afirmou que Simões Pereira é acusado da prática de 10 crimes, sendo dois de administração danosa, dois de abuso de poder, cinco de peculato e um crime de violação das normas de execução orçamental.
O PGR negou também que a absolvição de Geraldo Martins tenha significado o arquivamento do processo porque dele derivaram "quatro processos autónomos", sendo que alguns envolvem o nome de Domingos Simões Pereira.
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