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Save The Children "chocada e profundamente alarmada" com violência contra crianças em Cabo Delgado


Cabanas que albergam deslocados, Pemba, Cabo Delgado
Cabanas que albergam deslocados, Pemba, Cabo Delgado

Directora da organização, Brechtje Vanlith, diz que, em Fevereiro, 14 mil pessoas, metade das quais crianças, foram forçadas a fugir a uma nova onda de violência

A organização humanitária internacional Save The Children diz estar “chocada e profundamente alarmada” com a persistência da violência na província moçambicana de Cabo Delgado, com relatos de novos casos de raptos e decapitações de crianças, que forçaram cerca de 7 mil delas a procurarem campos de abrigo em Fevereiro, disse à VOA nesta sexta-feira, 1, a directora da organização.

Brechtje Vanlith afirmou que, em Fevereiro, 14 mil pessoas, metade das quais crianças, foram forçadas a fugir a uma nova onda de violência de grupos armados não estatais nas aldeias de Bangala 2 e localidades a sul de Nangade e norte de Macomia.

Os ataques trouxeram novamente experiências “horríveis e brutais” a crianças que agora seguem com “muita incerteza” as suas perspectivas futuras nos campos de deslocados, precisou Brechtje Vanlith.

“Não se pode subestimar o impacto deste conflito”, reforçou Brechtje Vanlith, ao denunciar novos raptos de crianças por grupos rebeldes para integrar suas fileiras, mas “não sabemos se para serem objectos sexuais, no caso das meninas ou combatentes”, nas frentes de batalhas, no caso de rapazes.

“Estes grupos não temem usar qualquer forma de violência brutal contra a população, e as crianças também estão a experimentar este tipo de violência (raptos e decapitações) horrível e brutal”, anotou Brechtje Vanlith, vincando que o mundo devia acordar para a realidade de Cabo Delgado.

Traumas nas crianças

Aquela responsável salientou que várias crianças convivem agora com fortes marcas de traumas da guerra, por muitas delas terem sido forçadas a assistir à decapitação de seus pais ou seus familiares, quando fugiram das suas aldeias.

“Há milhares de crianças traumatizadas” nos campos de deslocados, segundo Brechtje Vanlith, quem adiantou que vários programas da organização nas áreas de educação, nutrição e saneamento estão a integrar apoio psicossocial para ajudar a corrigir os traumas da guerra nas crianças.

“Ir a escola é uma forma de retomar a normalidade”, disse Brechtje Vanlith, assegurando que muitas iniciativas estão a ajudar as crianças a esquecerem a rotina e a focarem-se em coisas saudáveis para as mentes.

Contudo, a responsável apelou aos actores a encontrarem soluções para o conflito e a preservar os direitos das crianças.

De acordo com a Save The Children, mais de 370 mil crianças foram forçadas a fugir dos seus lares e procurar abrigo em campos de deslocados de guerra, e quase a maioria vive ainda dependente de assistência externa e carece de muitas necessidades, como acesso à educação, nutrição, protecção e condições de insegurança.

Novos ataques

Segundo a ACLED, uma organização não governamental especializada na recolha, análise e mapeamento de dados de conflitos, dois novos ataques mataram pelo menos duas mulheres no distrito de Mueda.

As mulheres morreram no ataque à aldeia Alberto Chipande, a 26 de Março, quando o grupo terrorista invadiu a aldeia, supostamente em busca de comida, tendo saqueado toda alimentação da população, mas sem queimar qualquer palhota.

Dois dias antes, o grupo teria atacado igualmente a aldeia Naida, também em Mueda, e igualmente saqueado os alimentos da população.

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