Analistas políticos moçambicanos divergem quanto ao peso político e económico da Rússia no país.
Para uns, ele é quase insignificante enquanto outros afirmam que, nos últimos tempos, Moscovo tem sido um parceiro de primeira linha de Maputo, que acaba de se beneficiar do perdão de 95 por cento da sua divida para com aquele país.
As relações entre os dois países são de longa data, sendo Moçambique a parte mais beneficiária, uma vez que as elites militar e política foram formadas na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e o próprio Estado moçambicano foi constituído com um forte apoio russo.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, foi formado numa das antigas repúblicas da então URSS.
Entretanto, esse relacionamento registou algum esfriamento quando Moçambique aderiu ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, fazendo com que Maputo deixasse de receber apoio russo e passasse a beneficiar-se da assistência do ocidente, através da ajuda ao desenvolvimento.
Mais tarde, surgiu o escândalo das dividas ocultas, que fez com que o Ocidente virasse as costas a Moçambique, tendo então as autoridades moçambicanas voltado de novo para a Rússia.
Mas, apesar disso, o analista político Paul Fauvet diz que neste momento praticamente não existem relações comerciais entre Moçambique e a Rússia, anotando que a antiga URSS fornecia alimentos, combustíveis ao país, mas agora não, "e, infelizmente, Moçambique não condenou a invasão russa à Ucrânia".
‘’Moçambique, como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, diz que é preciso dialogo, mas como dialogar numa situação em que a Rússia invadiu e ocupou outro país’’, interroga-se Fauvet.
Para o analista político Egidio Plácido, neste momento, também não se pode falar de relações económicas entre Moçambique e a Rússia porque as trocas comerciais entre os dois países nunca tiveram um volume digo de realce.
Ele refere que as relações entre os dois países "sempre foram ideológicas, e há um sentimento de dever por parte dos libertadores da pátria moçambicana, por causa do apoio que a Rússia deu à própria Frelimo, e neste momento não se pode falar de relações economicas".
Opinião contrária tem o investigador Borges Nhamirre, quem considera que Moçambique e a Rússia têm uma relação político-económica muito forte, destacando, entre outros aspectos, o fato de Moscovo ter sido o primeiro país no mundo a enviar uma força externa para combater o terrorismo em Cabo Delgado, através do grupo Warner.
O apoio de Moscovo incluiu também armamento e logística diversa para a luta contra a insurgência, num contexto em que ainda não havia o programa do Ocidente e as intervenções da Comunicado para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e do Ruanda em Cabo Delgado.
Em alguns círculos de opinião, diz-se que esta é uma componente política e não necessariamente económica, mas Borges Nhamirre discorda, afirmando que durante a recente visita do Presidente moçambicano a Moscovo, a Rússia perdoou 95 por cento da divida de Moçambique para com aquele país.
"De onde vem o Banco VTB que emprestou 535 milhões de dólares a Moçambique para as dívidas ocultas, de onde vem a empresa que tem uma concessão para a exploração de gás na bacia de Angoche, em Nampula, isso é político ou económico’’, interroga-se aquele analista político.
Nhamirre refere ainda o fato de existir uma parceria entre a empresa Electricidade de Mocambique (EDM) e a empresa de Electricidade da Rússia, entre outros projetos no domínio da economia.
Neste momento, as trocas comerciais entre os dois países não ultrapassam os 115 milhões de dólares e as autoridades russas consideram esta cifra "bastante modesta".
O embaixador russo em Maputo, Alexander Surikov, diz que o apoio a Moçambique é para continuar, sobretudo na luta contra o terrorismo.
O Presidente Nyusi considera muito importante a cooperação com a União Soviética e pretende que a Federação Russa transforme parte da dívida moçambicana em investimento, olhando, sobretudo para a agricultura, neste caso concreto para a produção de trigo, prestando também atenção ao turismo e infra-estruturas.
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