Cerca de 2.500 refugiados moçambicanos no Malawi, fustigados pela depressão tropical Ana, enfrentam fome severa em dois centros de abrigo, sem condições mínimas, disseram à VOA nesta terça-feira, 15, testemunhas e autoridades no local.
As vítimas foram desalojadas pelo transbordo do rio Chire, provocado pela passagem da depressão tropical Ana, em finais de Janeiro, nos distritos moçambicanos de Morrumbala (Zambézia) e Mutarara (Tete), quando buscaram refúgio em dois abrigos no distrito de Nsange, no sul do Malawi.
A maioria vive em condições deploráveis, sem comida e água potável no centro de abrigo de Nsange e Bangula, onde quase não chega ajuda desde que se acamparam ao relento e em palhotas feitas de palha e estacas.
Uma testemunha contou à VOA que uma família de cinco pessoas chega a receber por dia um prato de farinha, sem caril, sal e óleo, para confeccionar a única refeição.
"Não há comida. A vida está difícil e todos estamos a sofrer", conta Langton Cebola, que vive ao relento e que ficou cinco dias a fio sem uma refeição.
Outra refugiada, Fátima Afonso, que viu as águas engolirem as sua casa e seu campo de produção, disse que as crianças definham-se de fome sob seu olhar impotente face ao sofrimento.
"Estou há uma semana no campo, não recebo comida e nem esteira (um tapete de caniços costurado a mão usado para dormir)", diz Fátima Afonso.
Pedidos de ajuda
Por sua vez, Mixeque Simate, outro refugiado no campo Bangula, pede ajuda às autoridades moçambicanas para aliviar o sofrimento.
"Preciso de ajuda, o Governo devia ajudar com roupa e comida primeiro, e panelas para vivermos", defende.
Um oficial sénior do Departamento de Gestão de Desastres em Nsange, no Malawi, reconhece a fraca capacidade de resposta devido à falta de condições financeiras para assistir, não só os moçambicanos, mas todas as vítimas da depressão tropical Ana, que atingiu Moçambique e Malawi.
Em declarações à estatal Rádio Moçambique (RM), Elias Zimba, Alto Comissário de Moçambique no Malawi, disse que o Governo está a par da situação e pede uma corrente solidária humanitária para aliviar a situação dos refugiados.
"Queremos juntar a nossa voz na solicitação de apoio dos parceiros internacionais às populações vítimas do ciclone, sejam elas moçambicanas ou malawianas", anota Elias Zimba, que enviou uma equipa para fazer levantamentos nos campos de abrigo.
A depressão tropical Ana matou pelos 78 pessoas em Moçambique, Malawi e Zimbabwe, além de um rasto de destruição e centenas de desaparecidos.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, disse na altura que 35 pessoas morreram durante a passagem da depressão Ana pelo país.