O Presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou na quinta-feira, 28, atingir os centros de decisão de Kiev com o seu potente míssil “Orechnik”, utilizado pela primeira vez na semana passada, depois de ter afirmado que os ataques maciços efectuados durante a noite contra a Ucrânia eram a sua “resposta” ao disparo de mísseis ATACMS americanos contra o seu território.
Na altura, o chefe do Kremlin avisou que a Rússia poderia repetir os ataques contra a Ucrânia com este míssil pesado e até atingir instalações militares nos países que estão a armar Kiev.
Por enquanto, a Rússia não cumpriu as suas ameaças, mas atacou as infra-estruturas energéticas da Ucrânia com mísseis maciços e ataques de drones pela décima primeira vez este ano, de acordo com Kiev.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Moscovo de utilizar “munições de fragmentação” para levar a cabo os ataques, que mergulharam pelo menos um milhão de ucranianos na escuridão, no início do inverno.
Trata-se de uma “escalada desprezível”, denunciou.
Falando a partir de Astana, capital do Cazaquistão, onde participa numa cimeira regional, Vladimir Putin justificou os ataques russos desta noite: “Trata-se de uma resposta aos ataques em curso contra o nosso território utilizando mísseis ATACMS (americanos)”.
90 mísseis e 100 drones
Segundo Putin, foram lançados 90 mísseis e 100 drones explosivos contra a Ucrânia.
O famoso míssil, que tinha apresentado como um dispositivo hipersónico experimental chamado “Orechnik”, não foi utilizado nesta resposta, mas o Presidente russo, falando à imprensa algumas horas mais tarde, disse que “não podia excluir” a sua utilização futura para atacar “centros de decisão, incluindo em Kiev”.
O Presidente russo voltou a elogiar os méritos da arma, que tem um alcance de vários milhares de quilómetros e foi concebida para transportar ogivas nucleares.
É capaz de atingir qualquer ponto da Europa, mesmo sem estar equipada com ogivas nucleares, segundo o l]ider russo.
“Se utilizarmos vários destes sistemas num só ataque - dois, três, quatro - então, em termos de potência, é comparável à utilização de uma arma nuclear”, disse aos jornalistas, comparando o míssil a ‘um meteorito’.
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, cujo país é um firme apoiante de Kiev, afirmou que as ameaças de Vladimir Putin demonstram mais a sua “fraqueza” do que qualquer outra coisa.
“O facto de Putin utilizar frequentemente ameaças muito duras na sua retórica demonstra mais a sua fraqueza do que a sua força”, afirmou Tusk, quando questionado sobre a ameaça, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo sueco, Ulf Kristersson.
Na quarta-feira, a Polónia e os países bálticos e nórdicos afirmaram querer reforçar o seu apoio militar à Ucrânia e apelaram ao alargamento das sanções contra a Rússia.
“Não nos vamos deixar amedrontar por ameaças deste tipo, vamos apoiar a Ucrânia enquanto precisar de nós”, insistiu Tusk.
Bombas de fragmentação
Há cerca de três anos que a Rússia ataca as infra-estruturas energéticas ucranianas, com o objetivo de minar o moral da população e paralisar a logística do exército de Kiev, uma tática que, até agora, tem encontrado resistência por parte dos ucranianos.
Na quinta-feira, o exército russo disparou 91 mísseis e 97 drones explosivos, dos quais 79 e 35, respetivamente, foram interceptados, de acordo com a força aérea ucraniana.
Mas Volodymyr Zelensky acusou, sobretudo, Moscovo de ter atacado as infraestruturas energéticas com bombas de “fragmentação”, minando efetivamente estes locais e pondo em perigo os civis, os serviços de emergência e as equipas de manutenção enviadas para o local.
O Presidente ucraniano voltou a pedir “o envio imediato de sistemas de defesa aérea”.
As infra-estruturas energéticas foram afectadas em várias regiões, provocando cortes de energia “em todo o país”, segundo o chefe da empresa de fornecimento de eletricidade Yasno, Serguiï Kovalenko.
No total, pelo menos um milhão de ucranianos estão mergulhados na escuridão, de acordo com as várias autoridades regionais.
Trump, “um homem inteligente”
Nas últimas semanas, a Rússia intensificou a sua pressão militar sobre a Ucrânia, a menos de dois meses do regresso de Donald Trump à Casa Branca, nos Estados Unidos, o que é visto como um possível ponto de viragem.
Muito crítico em relação aos milhares de milhões de dólares disponibilizados por Washington para a Ucrânia, o Presidente eleito prometeu resolver o conflito ainda antes de tomar posse, a 20 de janeiro, sem nunca explicar como.
Na quinta-feira, Vladimir Putin, que trabalhou ao lado de Donald Trump durante a sua primeira passagem pela Casa Branca, entre 2017 e 2021, descreveu-o como um “homem inteligente”, com “muita experiência”, capaz de “encontrar” soluções.
Na linha da frente, as forças russas têm vindo a obter ganhos territoriais ao longo das últimas semanas contra um exército ucraniano enfraquecido a um ritmo nunca visto desde o início de 2022, particularmente em torno das cidades de Pokrovsk, Kurakhove e Kupiansk.
Perante este cenário de grande incerteza, a administração do Presidente cessante, Joe Biden, apelou a Kiev, na quarta-feira, para que baixasse a idade mínima de mobilização militar para os 18 anos - dos actuais 25 - a fim de repôr as fileiras.
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