O pedido veio da comunidade cabo-verdiana. Homens e mulheres querem aprender a ler e a escrever. A solução foi dada pela técnica de serviço social, ativista e filha de cabo-verdianos, Sofia Rodrigues, que viu uma oportunidade para fazer a diferença e ajudar a valorizar as pessoas de mais idade.
Sofia é participante da terceira edição do programa “de Mulher para Mulher ” da Associação Rede Portuguesa de Jovens para a Igualdade de Oportunidades, que consiste num programa de mentoria, com duração de um ano, em que 12 jovens participam, a nível nacional, de fins de semanas de capacitação, e interagem com mentoras de diversas áreas da esfera pública e política de Portugal. O compromisso desse programa é a criação de um projeto comunitário.
Quando Sofia entrou no programa, ela tinha uma ideia diferente para o seu projeto. Queria que os estudantes universitários acompanhassem, durante cinco anos, alunos do quinto ao nono ano das escolas com maior índice de abandono escolar, a fim de conscientizá-los da importância da escola e dos estudos. No entanto, depois que recebeu o pedido da comunidade, tudo mudou.
"Eu tenho a própria comunidade a pedir-me apoio. Nesse sentido, considero muito mais relevante abraçar um projeto dessa natureza, ou seja, a comunidade se espelha no projeto porque foram as mulheres que deram o passo para solicitar isso... A minha ideia ficou para segundo lugar. Também tem seu valor, mas agora achei muito mais importante dar resposta a uma necesssidade da comunidade".
Sofia explica que o programa "de Mulher para Mulher" é um projeto que visa a promover a igualdade de género na sociedade, tanto numa perspectiva feminista como institucional.
E foi assim que surgiu Círculos de Cultura, um projeto de alfabetização que tem como objetivo reduzir para um terço o número de pessoas, na comunidade cabo-verdiana do Monte de Caparica, que nem sabem ler nem escrever, bem como promover a participação de estudantes universitários que vão ter a oportunidade de pôr em prática o que aprenderam na teoria.
O projeto arrancou neste fim de semana com 20 participantes, 18 mulheres e dois homens.
Segundo Sofia, o projeto piloto deve durar de um a dois anos. Estudantes universitários vão acompanhar os participantes durante o ano escolar, e o número de inscritos pode aumentar.
“Com 20 participantes já temos margem para perceber e ampliar o impacto do projeto. Quanto mais participantes tivermos, mais alunos poderão participar".
Sofia concluiu dizendo que não devemos desvalorizar nem discriminar a geração dos nossos pais. "É preciso aprimorar a qualidade de vida das pessoas com mais idade".
Há cerca de meio milhão de analfabetos em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), com base no censo de 2011. A maioria é idosa e vive em zonas do interior.
Confira a entrevista.