As precárias condições contratuais e de trabalho de um número considerável de jornalistas moçambicanos, associadas a pressões politicas, têm condicionado a liberdade de imprensa e de expressão, cujos índices recuaram largamente nos últimos anos no país.
Esta conclusão foi feita nesta terça-feira, 11, durante as celebrações do Dia do Jornalista Moçambicano, que coincide com os 45 anos da criação do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ).
Presidente da República pede que jornalistas sejam patriotas.
Para o jornalista Victor Machirica, nos últimos 30 anos, o país viu crescer o número de profissionais e de órgãos de comunicação social, mas a precariedade dos contratos e das condições de trabalhos tem condicionado o exercício pleno da actividade.
“Faltam contratos formais de trabalho dos órgãos privados, faltam salários e remunerações adequadas para alguns profissionais e colaboradores das rádios comunitárias”, anota Victor Machirica, sustentando que para a sobrevivência muitos jornalistas têm violado a ética e comprometido a qualidade de informação que chega ao público.
Aquele profissional acrescenta que “muitas vezes agimos de forma antiética e violamos a deontologia” para a sobrevivência.
O também secretário do SNJ em Manica sublinha que o órgão continua com o desafio de fazer com que o jornalista seja “respeitado e tratado de forma decente” no desempenho da sua actividade.
Por sua vez, Madeira Sebastião, do Diário de Moçambique, observa que várias fontes oficiais se aproveitam da precariedade contratual dos jornalistas para condicionar a informação de qualidade que devia chegar ao público.
“Há uma fragilidade financeira dos órgãos de comunicação” para garantir a sua independência editorial, sublinhou Madeira Sebastião, acrescentando que “num país onde um jornal não é produto de primeira necessidade... as pessoas com fome descartam a sua compra” e cortam o seu financiamento.
Liberdade de imprensa condicionada
Para Madeira Sebastião, “claramente que os pagamentos humilhantes dos jornalistas afectam o desempenho do jornalista e os tornam vulneráveisl a qualquer proposta” que condiciona a qualidade da informação a divulgar.
Já o jornalista Kelly Mwenda defende que a crescente pressão política sobre os jornalistas no seu exercício tem gerado autocensura e consequentemente a queda dos índices da liberdade de imprensa e de expressão no país.
“A liberdade de imprensa e de expressão em Moçambique apenas esta no papel, não tem nada de liberdade, porque nós não estamos livres”, frisa Mwenda, também docente na Escola Superior de Jornalismo, quem realça que a pressão politica sobre os conteúdos a saírem nos órgãos de comunicação “denuncia a falta de liberdade”.
Nyusi apela ao patriotismo
No campo partidário, os principais partidos parlamentares congratularam os jornalistas moçambicanos, com a Frelimo a destacar que o rico quadro legal tem ajudado a liberdade jornalística, e a Renamo e o MDM a vincar as limitações e as perseguições contra jornalistas durante a sua missão de contribuir para a democracia.
Numa mensagem aos jornalistas, o Presidente Filipe Nyusi disse que, antes de tudo, ser jornalista é “ser difusor da verdade sobre as dinâmicas do dia-a-dia do país, no seu percurso rumo à estabilidade e bem-estar das pessoas, relatando os factos, sempre, com isenção, responsabilidade e patriotismo”.
Nyusi afirmou que no pluralismo, a figura central é o jornalista, na condição de principal interveniente na consolidação das conquistas democráticas que se vão cristalizando como modo de vida do povo.
Ante os desafios que o país, enfrenta, como mudanças climáticas e terrorismo, o Presidente moçambicano pediu aos jornalistas "que se revelem como verdadeiros patriotas, através da difusão de mensagens educativas".
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