As autoridades policiais da Guiné-Bissau dispersaram com gás lacrimogéneo uma marcha de dirigentes e militantes das coligações PAI-Terra Ranka e Aliança Patriótica Inclusiva-Cabaz Garandi, em Bissau nesta quinta-feira, 21, e detiveram pelo menos seis dirigentes.
Baciro Dja, líder da Aliança Patriótica Inclusive e Domingos Simões Pereira, da PAI-Terra Ranka, afirmaram que alguns deles terão sido torturados.
O Presidente da República reagiu dizendo que não vai permitir “indisciplina e desordem” no país.
Ontem dois jornalistas foram agredidos e impedidos de cobrir a vigilia de alunos da Escola Superior de Educação, dos quais seis também foram presos.
Entre os detidos na marcha de hoje por alguns bairros de Bissau estão Joana Cobdè Nhanca, presidente do Movimento Social Democrático (MSD) e irmã do antigo Presidente Kumba Yala, Vicente Fernandes, líder do Partido da Convergência Democrática, José Carlos Cá, presidente da Comissão Política do PAIGC num dos círculos eleitorais de Bissau, e dois seguranças afetos ao antigo primeiro-ministro Bassiro Dja, e presidente em exercício da coligação política API-Cabaz Garandi.
Em conversa com a Voz da América, Dja, que foi atingido "com gás lacrimogéneo fora do prazo" e responsabiliza o Presidente da República.
"Os nossos dirigentes foram espancados, presos e alguna torturados, é uma violação de todos os princípios de direitos civis e políticos que nos assistem e que estão plasmados na nossa Constitução", afirmou 0 antigo Chefe de Governo.
Ainda, segundo Dja, "hoje na Guiné-Bissau as instituições democráticas que foram eleitas não têm nehuma importância, hoje há só uma lei superior de um chefe que se transformou num ditador, hoje proclama-se como um imperador, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló".
Aquele dirigente reiterou que a "Guiné-Bissau é um país de combatentes" e que as duas coligações vão "continuar a fazer o seu trabalho".
Até este momento, aqueles dirigentes continuam presos.
Numa comunicação na rede social do PAIGC, Domingos Simões Pereira, líder da outra coligação, PAI-Terra Ranka, disse e que "à nossa frente os nossos colegas foram torturados pelos policias, Vicente Fernandes, foi brutalmente agredido por vários elementos das forças de segurança e o colocaram no carro levando por um lugar desconhecido”.
A Voz da América contactou a assessoria de imprensa do Ministério do Interior para uma reação aos incidentes e declarações daqueles políticos, tendo o assessor respondido “recebido”, mas até agora não houve qualquer comentário.
No final da reunião do Conselho de Ministros hoje, o Presidente da República disse aos jornalistas que mais uma vez que não vai permitir “indisciplina e desordem” no país.
Umaro Sissoco Embaló acusou as duas coligações de serem “alianças falsas” e alegou que estão a fazer uma frente comum.
“Não se pode copiar para dizer que vão fazer passeatas para incomodar os moradores nos bairros porque ninguém tem esse direito”, afirmou Embaló que, questionado sobre as agressões aos jornalistas por parte da polícia, recomendou que movam uma queixa-crime contra os agressores, mas concluiu que o assunto é da alçada do Ministério do Interior.
Ontem, os jornalistas Carabulai Cassamá, da Radio Capital FM, e Turé da Silva, da Rádio Sol Mansi, ligada à Igreja Catolica, foram agredidos quando cobriam uma vigília de estudantes da Escola Superior de Educação.
Na ocasião seis estudantes foram presos.
O Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social e a Ordem dos Jornalistas criticaram a atuação da polícia e pediram a sua responsabilização, bem como a direcção da Rádio Sol Mansi.
Em nota, a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) responsabilizou hoje o Presidente da República pela integridade física de todos os detidos.
Em declarações à Voz da América, o presidente da organização disse que vai organizar marchas e denunciar a situação à comunidade internacional.
Bubacar Turé sublinhou que a "Guiné-Bissau está num contexto extremamente difícil, deplorável, o regime está determinado a destruir a democracia e, consequentemente, impedir o exercício das liberdades fundamentais constitucionalmente asseguradas".
Apesar dos incidentes de hoje, o líder da coligação PAI-Terra Ranka afirmou que "todo o cidadão guineense que sente que as instituições não estão a trabalhar, as escolas não estão a funcionar, não existe a segurança no país e todo o povo e acima de tudo aqueles que estão a dormir à fome, vamos sair à rua para a manifestação política no dia 24 de novembro e provar que ninguém pode domar-nos e se havia essa possibilidade de nos domar seriam os colonos a domar-nos".
Domingos Simões Pereira concluiu que "não podemos permitir isso nem que seja a última gota de sangue que temos no corpo, é chegado o momento, hoje, para colocarmos tudo a disposição do nosso país”.
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