A Polícia da República de Moçambique (PRM) na Zambézia continua a trabalhar para recapturar cerca de 190 reclusos que escaparam de duas cadeias da província durante os protestos nas penitenciárias em sete dias da mais recente fase de manifestações que terminou na quarta-feira, 11.
O analista político, Dércio Alfazema, diz que o caos atual foge aos propósitos dos protestos que atingiram um "nível assustador".
O chefe das relações públicas do Comando da Polícia na Zambézia, Miguel Caetano, ao confirmar o incidente, explicou que as autoridades policiais e penitenciárias ainda não conseguiram deter os reclusos evadidos das prisões dos distritos de Ile e Mulevala.
“As penitenciárias têm uma linha operativa das prisões e tem um trabalho coordenado com a Polícia, mas até agora ainda não temos informações sobre a recaptura de alguns reclusos”, precisou Miguel Caetano, em declarações por telefone à VOA.
Agentes da UIR mortos
Ainda no decurso das manifestações, na quarta-feira, 11, quatro agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), polícia antimotim, foram mortos em confrontos com Naparamas, uma força local integrada por antigos guerrilheiros e que tem o apoio do Governo.
O confronto ocorreu em Chimbazo, no limite entre os distritos de Luado e Mopeia, e segundo Miguel Caetano, a Polícia continua a investigar o incidente.
Refira-se que mais de 200 reclusos escaparam de três cadeias nas províncias moçambicanas da Zambézia e Gaza muma semana.
O incidente mais recente ocorreu ontem quando um grupo de manifestantes enfurecidos arrancou os portões e invadiu a cadeia distrital de Ile, na província da Zambézia, e libertou 90 reclusos.
A 4 de dezembro, no primeiro dia da fase designada por 4X4, ainda na província da Zambézia, outro grupo de manifestantes invadiu a penitenciária da vila sede distrital de Mulevala, libertando outros 100 reclusos.
As penitenciárias dos distritos de Inhassunge e Morrumbala foram igualmente invadidas, em ocasiões diferentes, alegadamente por grupos de manifestantes que libertaram um grande número de reclusos.
Em Inhassunge o ataque à penitenciária envolveu também os Naparamas.
Também no dia 4, outros 46 reclusos fugiram da cadeia distrital de Chibuto, na província de Gaza, durante os tumultos em protesto contra a alegada fraude eleitoral.
O incidente ocorreu quando um grupo de mais de duas mil pessoas furiosas invadiram a cadeia de Chibuto, que na altura albergava 150 reclusos, tendo arrombado as portas e libertos os reclusos.
As autoridades governamentais dizem que dos 46 reclusos libertos pelos populares, um decidiu entregar-se na penitenciária, estando a polícia a trabalhar para localizar os restantes 45 reclusos.
Caos inédito
Entretanto, o analista político Dércio Alfazema considerou inéditos e atípicos os casos de invasão e libertação de reclusos nas penitenciárias por manifestantes e que os atos estão desviados dos propósitos dos protestos.
Alfazema alertou para os riscos de segurança das sociedades onde tais ocorreram, realçando que "as manifestações em Moçambique passaram para um nível assustador".
A mais recente fase de contestação reivindicada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane decorreu até 11 de dezembro. No entanto, é expectável que os protestos continuem apesar da aproximação das datas festivas.
Venâncio Mondlane afirmou nas redes sociais não esperar que os manifestantes se tornassem apáticos durante a época festiva. “Desta vez, não vamos ter Natal, porque o povo vai estar na rua”, insistiu Mondlane na passada semana.
O Conselho Constitucional deve confirmar os resultados das eleições de 9 de outubro ainda neste mês.
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