Links de Acesso

Mais de 400 mil pessoas deslocadas este ano devido ao conflito no volátil Leste da RDC


RDC
RDC

O exército da República Democrática do Congo (RDC) e o M23 entraram em confronto esta sexta-feira, 24, perto da principal cidade do volátil leste do país, numa altura em que as Nações Unidas alertaram para o facto de o conflito ter deslocado mais de 400 mil pessoas neste ano e poder desencadear uma guerra regional.

Desde o fracasso das conversações de paz, os combatentes do M23, apoiados por tropas ruandesas, ganharam vastas áreas de território no leste da RDC nas últimas semanas, desencadeando uma crise humanitária e cercando a capital da província de Goma, onde vive um milhão de pessoas.

“O número de deslocações já ultrapassou as 400.000 pessoas só este ano, quase o dobro do número registado na semana passada”, afirmou Matthew Saltmarsh, porta-voz da agência da ONU para os refugiados (ACNUR), numa conferência de imprensa em Genebra, na sexta-feira.

O chefe das Nações Unidas, António Guterres, mostrou-se “alarmado com o recomeço das hostilidades”, disse o seu porta-voz num comunicado.

“Esta ofensiva tem um impacto devastador na população civil e aumenta o risco de uma guerra regional mais alargada”, acrescentou o comunicado, exigindo que a violência ‘cesse imediatamente’.

Os confrontos eclodiram na madrugada de sexta-feira a apenas 20 quilómetros de Goma. “Estamos a trocar tiros com o inimigo no eixo Kanyamahoro-Kibumba, é violento”, disse à AFP uma fonte de segurança sob condição de anonimato.

O M23 também esteve presente na cidade de Sake na sexta-feira, de acordo com uma fonte militar. Sake, cerca de 20 quilómetros a oeste de Goma, foi palco de intensos combates no dia anterior.

Helicópteros do exército congolês dirigiram-se para Sake na manhã de sexta-feira, tendo sido ouvidas explosões nos bairros ocidentais da cidade, embora não fosse clara a intensidade dos combates.

O presidente congolês Felix Tshisekedi deverá reunir-se durante o dia com o conselho de defesa, após uma reunião de crise na quinta-feira.

O governador militar do Kivu do Norte, general Peter Cirimwami, morreu na sexta-feira de manhã, segundo fontes militares e da ONU. Tinha sido baleado na quinta-feira perto da linha da frente.

Civis fogem a pé

O exército congolês enviou na quinta-feira helicópteros que dispararam foguetes contra a linha da frente, numa tentativa de travar o avanço dos combatentes do M23 sobre Goma.

Crianças congolesas observam o destacamento de tropas do governo e da ONU nos arredores de Goma, na República Democrática do Congo, na sexta-feira, 24 de janeiro de 2025, enquanto os rebeldes do M23 se aproximam da cidade.
Crianças congolesas observam o destacamento de tropas do governo e da ONU nos arredores de Goma, na República Democrática do Congo, na sexta-feira, 24 de janeiro de 2025, enquanto os rebeldes do M23 se aproximam da cidade.

Pelo menos uma dúzia de veículos blindados da missão de manutenção da paz da ONU na RDC (MONUSCO) foram vistos a dirigir-se para oeste de Goma.

Veículos blindados da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral na RDC, que se encontra no local para apoiar o exército congolês, foram também vistos a transportar armas em direção a Sake.

Na quinta-feira, equipas médicas do Comité Internacional da Cruz Vermelha trataram mais de 70 feridos no hospital de Goma.

Os civis têm estado a fugir dos combates desde quinta-feira, deslocando-se a pé para o centro de Goma. A região está no epicentro da violência que abala o leste da RDC há 30 anos.

O M23 - Movimento 23 de março - ocupou brevemente a cidade no final de 2012. Mas o exército congolês, com o apoio da missão da ONU na RDC e a pressão diplomática da comunidade internacional sobre o Ruanda, recapturou a cidade pouco tempo depois.

Os esforços diplomáticos para resolver a crise têm falhado até à data.

Em dezembro, uma reunião entre Tshisekedi e o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, no âmbito de um processo de paz liderado por Angola, foi cancelada por falta de acordo.

A Turquia, muito ativa no continente africano, ofereceu-se na quinta-feira para liderar uma mediação entre a RDC e o Ruanda.

Já foram declarados na região meia dúzia de cessar-fogos e tréguas, que foram depois quebrados, tendo o último cessar-fogo sido assinado no final de julho.

Fórum

XS
SM
MD
LG